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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - UM RETRATO BREVE

06.07.18 | João Manuel Maia Alves

Mouriscas é uma freguesia rural do concelho de Abrantes, com 1832 habitantes no recenseamento de 2011. Carateriza-se por um povoamento disperso, com muitos lugares habitados espalhados por um extensa área. Como todas as terras do interior, tem sofrido de despovoamento. É servida por caminho de ferro e pela autoestrada A23. Pouco se sabe da sua história.

Grande parte do território é coberto de oliveiras, algumas milenares, que, noutros tempos, justificavam a existência de muitos lagares. Muita da grande produção de azeite era  vendida para fora, por via férrea ou rodoviária, ou comprada por pessoas que se deslocavam a Mouriscas.

Devido um microclima muito propício, Mouriscas teve noutros tempos uma grande produção de figo preto, que abastecia diversas destilarias.

A produção de seiras e capachos para lagares de azeite, iniciada no séc.XIX e vendida para todo o país, constituiu uma indústria que criou muitos postos de trabalho. As seiras e capachos eram produzidos manualmente em numerosas oficinas, que, a certa altura, se fundiram numa fábrica com processos mais modernos. Essa fábrica ainda existe com o nome de Sifameca, sem a pujança doutros tempos.

Outra indústria que floresceu em Mouriscas foi o do fabrico artesanal de telha e tijolo. A composição do solo numa zona de Mouriscas é  apropriada para o  fabrico de telhas e tijolos. Nessa zona houve vários locais de fabrico destes materiais. As telha e os tijolos produzidos em Mouriscas eram em grande parte vendidos para fora, tendo saído até de barco. Ainda hoje existe em Mouriscas uma firma dedicada ao fabrico artesanal de telha, tijolo e de tijoleiras para lares de fornos de cozer pão.

O fabrico de fogo de artifício foi uma atividade que tornou Mouriscas muito conhecida em variadas zonas do país, no tempo em que nenhuma festa ou romaria dispensava fogo de artifício. Os pirotécnicos de Mouriscas estiveram presentes, com caráter de regularidade, em festividades como a Queima das Fitas, em Coimbra, ou a Festa dos Tabuleiros, em Tomar. Também marcaram presença em grandes momentos, como a inauguração da ponte sobre o  Tejo.

No que espeita à educação Mouriscas tem uma história brilhante. Em várias épocas mourisquenses atingiram um alto nível intelectual e foram figuras muito importantes em várias áreas. Essa situação aconteceu ainda no  séc. XIX e acelerou-se nos anos 30 do séc. XIX quando rumaram a Mouriscas centenas de rapazes para preparação para os exames de admissão aos caminhos de ferro. Foi o professor do ensino primário Matias Lopes Raposo, natural de Mouriscas, que deu início a esses cursos, tendo a atividade atingido tais proporções que o Prof. Raposo, que também tinha a seu cargo o registo civil como bom republicano que era, se viu obrigado a dividir tarefas com a esposa, D. Maria Amélia Moreira, também docente do ensino primário, com a filha, Cremilde Moreira Raposo, e com o genro, João Gualberto Santana Maia, médico natural de Mouriscas, onde se tinha fixado e que, em Coimbra tinha estudado outras matérias além de medicina. À preparação para os exames do caminho de ferro juntou-se a preparação para o 3.º ano liceal e depois para o 6.º. O sucesso verificado nos exames divulgou-se e começaram a chegar a Mouriscas alunos de todo o País. Foi assim que na freguesia de Mouriscas nasceu, em 1938, o Colégio Infante de Sagres que, embora não legalizado, já tinha muitos alunos. Viria a ser legalizado em 1948, chegando a ministrar o 7.º ano do liceu. O colégio tornou-se mais tarde numa escola  pública, que foi extinta, numa altura em que já só era frequentada por alunos de Mouriscas e o país se encheu de escolas do ensino secundário públicas. As suas instalações foram ocupadas pela Escola Profissional de Desenvolvimento Regional  de Abrantes (EPDRA), que  funciona em Mouriscas nestas instalações e numa herdade a uma certa distancia da EPDRA. É  frequentada por alunos de muitas localidades inclusive das ex-colónias.

A escola dos ferroviários permitiu a muito mourisquense um emprego nos caminhos de ferro, com acrescidas facilidades de ensino para os filhos. O colégio permitiu a muitos jovens o ensino secundário, que em muitos casos, continuou para um nível superior. Assim, Mouriscas, uma freguesia rural adquiriu um nível educacional muito elevado numa altura em que, no país a maioria, principalmente fora dos grandes centros, se ficava pelo ensino primário.