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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Mouriscas e o Caminho de Ferro

26.06.11 | João Manuel Maia Alves

Este artigo de Alberto Grossinho, publicado em 19 de abril de 2006, é muito interessante e um complemento adequado de Universidade Ferroviária de Mouriscas, do mês passado. Por isso, se volta a publicar.

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A freguesia de Mouriscas e os seus habitantes sempre mantiveram uma forte ligação ao caminho de ferro, a qual se iniciou, por certo, no período da construção da linha da Beira Baixa, no troço Abrantes-Covilhã. Desde esses tempos que os aspectos sócio-económicos e culturais da vida das pessoas de Mouriscas foram influenciados pela ferrovia. A construção da Linha da Beira Baixa ocorreu no final da década 1880-90, tendo sido inaugurada no troço Abrantes-Covilhã no ano de 1891. O projecto da estação de Mouriscas data de 1890 e a sua construção terá ocorrido entre 1890 e 1891.Por volta do ano de 1958 foram substituídos os tabuleiros metálicos de algumas das pontes existentes na freguesia, obras estas que na altura tinham alguma dimensão e eram objecto de observação por parte de alguns mourisquenses.Entretanto, em 1975, para dar satisfação à necessidade de transporte de muitos operários residentes na parte sul da freguesia que trabalhavam nas oficinas do Entroncamento, foi construído o apeadeiro de Mouriscas-A pelos trabalhadores residentes em Mouriscas, portanto sem qualquer custo para a CP, dando assim satisfação a uma reivindicação dos mourisquenses, a qual já havia sido formalizada uns anos antes pela Junta de Freguesia.A linha viria a ser renovada, com a substituição dos carris, travessas e balastro no ano de 1977, permitindo assim maiores velocidades aos comboios. Posteriormente e para dar satisfação às necessidades de transporte de carvão para a central do Pego, foi decidido que a inserção do ramal para a central seria construída na freguesia de Mouriscas, por alternativa a uma outra solução que previa que o ramal se iniciava próximo da estação de Abrantes. A decisão de construir o ramal a partir do “apeadeiro” e a consequente ponte sobre o Tejo que foi necessário construir não foi alheia aos esforços de alguns mourisquenses que se interessaram para que fosse essa a solução. Para concretizar este projecto, foi necessário construir uma nova estação no local do apeadeiro, com duas linhas, de onde parte o ramal, electrificá-las, montando a respectiva catenária, e ainda instalando sinalização do tipo electrónico. A ponte que foi construída sobre o Tejo foi ainda considerada com tabuleiro rodoviário, o que se traduziu também como uma mais-valia para Mouriscas.Sob o ponto de vista da acção do caminho de ferro sobre a vida das pessoas de Mouriscas e das suas actividades, quer profissionais quer económicas, sempre se tem verificado uma grande interactividade nos dois sentidos, com consequências benéficas para as duas partes. Por um lado, o caminho de ferro ganhou com a admissão de muitos mourisquenses, que foram sempre bons profissionais, dedicados e competentes; por outro, os habitantes de Mouriscas e as suas famílias também tiveram benefícios, pois que entraram para a CP muitas pessoas nas décadas de quarenta e cinquenta quando o emprego não abundava. Estes mourisquenses tiveram depois a vantagem de se valorizar profissionalmente ao longo de uma carreira e de ser colocados em locais onde existiam liceus e escolas industriais e comerciais, facilitando assim, o ingresso dos seus filhos nesses estabelecimentos de ensino. Estas pessoas eram, e algumas ainda são, conhecidas na CP, como bons chefes de estação, inspectores, operários, contramestres e outros.Consta ainda que na construção da linha intervieram operários vindos de vários pontos do país, nomeadamente do Minho, alguns dos quais se vieram a fixar em Mouriscas. Alguns familiares seus descendentes ficaram conhecidos, por esse facto, como “minhotos”. Não se sabe ao certo, mas também é provável que o apelido Sertaínho ou Certaínho tenha a ver com pessoas oriundas da Sertã que aqui se fixaram pelo mesmo motivo. Quem não ouviu já falar da “Universidade Ferroviária das Mouriscas”, onde o saudoso Professor Matias Lopes Raposo preparava, com as suas aulas, os candidatos à admissão à CP? Tinham de fazer um exame de admissão bastante rigoroso para serem admitidos. Como iam com uma boa preparação, ficavam sempre bem classificados e entravam com facilidade. Vinham até explicandos de outras terras, por exemplo da zona de Castelo Branco para receber lições do Professor Raposo. Terá sido a partir desta iniciativa que se veio a fundar, mais tarde, o Colégio Infante de Sagres, o qual também é um forte merecedor de um escrito neste blogue. A existência da estação de Mouriscas foi também importante para a actividade económica da freguesia, pois que era a partir dali que se transportavam parte dos produtos produzidos nesta freguesia, como as seiras e capachos para os lagares de azeite, os produtos cerâmicos e talvez algum azeite. E quem não se lembra do Tio Zé Valente, que na sua mula ou na carroça transportava todas as madrugadas e ao fim do dia, o correio, do e para o chamado “comboio-correio”?Na área dos passageiros, também numa época em que os transportes públicos e os carros particulares não abundavam, era o comboio o principal meio de deslocação da população de Mouriscas. Era este o transporte utilizado pelas “mulheres dos ovos”, que compravam ovos às pessoas que criavam galinhas e os levavam para Lisboa para serem distribuídos pelo comércio. A venda dos ovos constituía uma receita para as criadoras e também para quem os transportava para o local do consumo, pois que essas pessoas, normalmente, eram familiares de ferroviários e como tinham “o quarto” pagavam pouco ou nada nas viagens de comboio. Como actividades complementares a este transporte de passageiros, referem-se o táxi do Baptista e a taberna do Raposo, irmão do Professor Raposo, e outra que ali existiu, do Galinha, que prestavam o apoio gastronómico, e “matavam a sede” aos passageiros.Recordam-se aqui três dos chefes mais antigos da nossa freguesia: na estação de Santa Apolónia o Sr. Leonel Dias Agudo e na estação de Mouriscas, o Sr. Matos (do café) e o Sr. Sabino. Alberto Grossinho