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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Alcínio Serras - charadista mourisquense

15.09.09 | João Manuel Maia Alves
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De Mouriscas - esta terra tão especial - têm saído pessoas que se distinguiram em variados domínios. Alcínio Serras é uma delas. O charadismo é a área a que se vem há muitos anos dedicando com notável empenho.

Alcínio Dias de Matos Serras nasceu no lindo lugar das Varandas, sobranceiro ao rio Tejo, em 22 de janeiro de 1934, filho de Aurélio Dias Serras (Aurélio das Varandas) e de Maria Teresa Lopes. Pela parte da mãe, Alcínio é descendente em quinto grau de António Ferreira Santana, nascido em 1789, em Alagoa, concelho de Portalegre, e de Luísa Lopes, nascida por volta de 1801, na Cabeça de Alconde, freguesia de S. Vicente,  do concelho de Abrantes. Deste casal descendem os “Santanas com origem em Mouriscas”. A avó materna de Alcínio foi uma famosa parteira, conhecida no seu tempo por “Comadre Virgínia”. Assistiu ao nascimento de inúmeras crianças, que, depois, transportou ao colo à igreja para serem batizadas.

Depois da escola primária, Alcínio frequentou em Mouriscas o Colégio Infante de Sagres, onde fez o 5.º ano dos liceus, e em Lisboa o liceu Pedro Nunes, onde completou o 7.º ano. Alcínio foi bancário e professor e licenciou-se em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE).

Alcínio Dias de Matos Serras é casado com Maria Antonieta Cadete Simão de Matos Serras, professora primária de várias gerações de mourisquenses e pai dum filho e duma filha. O filho, Alcino Serras, tem uma notável carreira de atleta de alta competição e é charadista como o pai.

Às vezes ouvimos dizer que as palavras de alguém foram uma charada. Isto significa que não são fáceis de entender, que são uma espécie de mistério, que é precioso dar muita volta ao miolo para descobrir onde o orador quis chegar. Se o significado se pudesse captar sem esforço, não constituiriam uma charada. Uma charada é um jogo verbal em que, a partir dalgumas palavras não muito claras, se tem de descobrir uma solução. Um exemplo poderia ser este: Pela primeira se pode entrar; a segunda pode-se desfraldar. A solução é porta-bandeira. Este é um exemplo muito simples. De charadas, a maioria das pessoas conhece as palavras cruzadas. Há muitos outros tipos de charadas - aferéticas, protéticas, apocopadas, paragógicas, sincopadas, epentéticas, etc. É extremamente difícil decifrar muitas delas.

É trabalho de charadistas compor e decifrar charadas. Para se ser charadista é preciso muita dedicação, muito estudo e muita prática. Muita gente tem a inteligência e a base de conhecimentos suficientes para iniciar uma carreira de charadista, mas falta-lhe o interesse e a capacidade para o indispensável esforço continuado. O charadismo fica assim reservado a uma pequena minoria de “maluquinhos” no bom sentido, – isto é, pessoas capazes de extrema devoção a uma causa.

Há muitos anos o Diário Popular, extinto jornal da tarde, organizou um concurso de palavras cruzadas. Alcínio estava em Lisboa e concorreu. Logo no primeiro problema apareceu uma palavra que desconhecia. Sabia que a primeira letra era um agá, mas faltavam-lhe outras. Com a paciência e a persistência própria de gente que se entrega a passatempos do género, Alcínio procurou no único dicionário de que dispunha a solução. Não a conseguiu, mas não desistiu. Conhecia a revista “O Charadista” e sabia que os charadistas se reuniam na cave do Café Palladium, nos Restauradores, aos sábados, por volta das 16 horas. Foi lá procurar auxílio. Podemos imaginar que para Alcínio deve ter sido um momento mágico o encontro com esse povo das charadas, assim como que a respeitosa entrada num santuário. Foi em 1958, há mais de meio século. Tinha Alcínio 24 anos.No Palladium conseguiu a solução: hemeroteca, palavra que designa uma biblioteca de jornais e de revistas. Foi logo ali convidado para ser sócio dos charadistas. Assim nasceu uma paixão pelo charadismo que nunca murchou em Alcínio, que passou a ir todos os sábados ao Palladium para participar nos encontros com os outros charadistas.

A entrada de Alcínio no charadismo trouxe-lhe o novo nome de “Aldimas”. O uso de pseudónimos simplifica e democratiza o contacto entre charadistas, pairando acima de títulos profissionais ou académicos.Desde a sua entrada no mundo do charadismo, Alcínio tem dedicado muito tempo ao assunto, não só compondo e decifrando charadas como participando em encontros anuais de charadistas e comunicando-se com colegas da arte. Em 1997 teve lugar no Sardoal um encontro de charadistas, organizado por Alcínio. Participaram dois casais brasileiros que, de propósito, vieram do Brasil, onde há muitos cultores desta atividade. A estação de televisão SIC esteve presente todo o dia e dedicou ao encontro intervenções em vários noticiários; no jornal da noite, no chamado horário nobre, procedeu a um resumo do ocorrido durante o dia.

O gosto pela língua portuguesa e o seu domínio e uma boa cultura geral são fatores indispensáveis à prática do charadismo. Por sua vez o charadismo aumenta o conhecimento da língua e a cultura geral, o que melhora a capacidade como charadista - e assim sucessivamente. Alcínio usa na sua atividade de charadista um variado leque de obras de consulta. Algumas são especializadas. Alcínio é o autor de algumas.Devido à prática do charadismo, Alcínio pode gabar-se duma invulgar bagagem de conhecimentos da língua e de cultura que lhe permite saber a resposta da maioria dos concursos que passam na televisão.

Quanto charadistas há em Portugal? Talvez não cheguem a 200. Referimo-nos, claro, a pessoas que se dedicam intensamente à arte e não àquelas que esporadicamente decifram uma charada. Ser charadista é difícil – exigindo demasiado trabalho e sacrifício para a maioria das pessoas. Atualmente Alcínio é o coordenador da página de charadismo do jornal regional “ABARCA”, publicado no Tramagal e dedicado a vários concelhos da nossa zona.

Dizem estar cientificamente provado que o charadismo prolonga a vida das pessoas porque lhes exercita as capacidades mentais. Embora seja sempre de pôr reservas a afirmações do género, não custa aceitar que seja verdade.

Este artigo não pode terminar sem fazer referência a outros charadistas de Mouriscas: Joaquim Gonçalves Pedro (Joaquim da Aldeia), durante muitos anos barbeiro no centro de Mouriscas e que teve como charadista o pseudónimo de Joves, Eduardo Roldão, que usou o pseudónimo de Edmaro e Manuel Alves Bento, que como charadista foi Elvesto

 Pronto, leitor, se não sabia, fica a saber que em Mouriscas existe alguém que se dedica ao charadismo. O seu nome é Alcínio de Matos Serras. Muito bem, Alcínio, pela sua carreira!

Na redação deste artigo foram usadas informações recolhidas de entrevista de Alcinio de Matos Serras ao jornal “ABARCA”. Agradecimentos ao jornal ABARCA pela autorização de utilização da foto da entrevista. Também foram usadas informações, que se agradecem, do próprio Alcínio de Matos Serras.