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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Jesuvino Ferro

29.06.07 | João Manuel Maia Alves
Jesuvino de Oliveira Ferro foi durante muitos anos uma pessoa de relevo em Mouriscas. Nasceu nos Engarnais Cimeiros em 19 de Maio de 1894, filho de José Maria Ferro e Eugénia Maria. Os avós paternos foram Manoel de Matos e Florinda Lourença e os maternos Joaquim Pires e Maria do Rosário. A sua figura, dotada duma natural distinção e elegância, merece ser recordada. Da publicação “O Concelho de Abrantes”, de 1952, transcrevemos a seguir o artigo dedicado a esta personalidade mourisquense. JESUVINO FERRO Um Mourisquense de acção jesuvino-ferro.jpg Já vários publicistas se têm referido largamente às altas qualidades dos naturais de Mouriscas, uma das freguesias mais importantes do concelho de Abrantes. Pouco poderíamos acrescentar ao muito que se tem escrito a tal respeito. Contudo, apraz-nos registar três das mais altas qualidades do Mourisquense, apontadas por todos os que se têm dado a tarefa do analisá-lo: inteligência, bondade a alegria. Pois não conhecemos homem de Mouriscas em quem estas qualidades se reunam de maneira tão harmónica como no Sr. Jesuvino Ferro. Pode considerar-se, por isso, a mais alta e humana expressão do Mourisquense. Jesuvino Ferro é, na verdade, um exemplo magnífico do patriota, do cidadão dado ao trabalho e empreendedor, amigo da Ordem e respeitador da Lei, que, sem alardes nem atritos, chegou mais longe do que os seus honrados progenitores. Sacrificando abnegadamente a sua personalidade e os seus interesses particulares, ele tem colocado todas as suas energias e faculdades excepcionais ao serviço do bem público. Como industrial, o que nele merece mais admiração é a sua perseverança e o seu espírito de iniciativa. A sua fábrica de cairo – seiras para lagares de azeite, capachos, tapetes e "carpettes", de todas as dimensões – é uma das mais importantes de Mouriscas, empregando grande número de operários e honrando a indústria nacional. Quem primeiro iniciou esta indústria em Mouriscas foi Manuel Marques Esparteiro, avô deste conceituado industrial. As seiras, então, eram fabricadas só com esparto, pois não se conhecia outra matéria-prima. Foi Augusto Pires, genro de Manuel Marques Esparteiro, um dos primeiros fabricantes de seiras de cairo no País. Por morte de Augusto Pires, que era tio do Jesuvino Ferro, continuou este a dedicar-se ao fabrico de seiras para lagares de azeite, aproveitando os ensinamentos e a experiência do seu laborioso predecessor. Presentemente, a maioria dos lagares deixou de usar seiras para usar apenas capachos. E esta indústria alcançou um desenvolvimento e uma perfeição que atestam a alta competência do dinâmico industrial. A vida pública do sr. Jesuvino Ferro, a que não podemos fazer aqui senão resumida referência, devido à exiguidade do espaço com que lutamos, é das fecundas e exemplares que temos encontrado por todo o concelho de Abrantes. Foi durante muitos anos vogal da Junta de Freguesia de Mouriscas, lugar que desempenhou com óptima visão e alto critério. Quando chamado ainda há pouco tempo para o honroso cargo de vereador da Câmara Municipal de Abrantes, respondeu prontamente ao apelo, como bom cidadão que é, para orgulho da população Mourisquense. A sua acção como presidente do Grupo Desportivo e Recreativo "Os Esparteiros", em que tem posto o melhor da sua bondade, do seu espírito empreendedor e do seu bom-gosto, pode qualificar-se de verdadeiramente notável. Merece uma nota alta o empenho manifestado em querer salvar e rejuvenescer o melhor do folclore regional e a forma como tem orientado o rancho folclórico, imprimindo-lhe um sentido elevado e educativo, no desejo de apurar sensibilidades e enobrecer sentimentos. Muito haveria a dizer também dos empreendimentos agronómicos do sr. Jesuvino Ferro, se o espaço no-lo permitisse. Não queremos, porém, deixar de registar que, desde o início da sua carreira, ele projecta conjugar a agricultura com o trabalho industrial, inspirado na teoria de que é no manancial inesgotável da Natureza que podem colher-se simultaneamente os melhores produtos e as melhores lições. Daqui resultou o tornar-se ele produtor de azeite, cereais, cortiça, figo seco e espécies hortícolas, possuindo propriedades nos concelhos de Mação e de Sardoal. O seu lagar de azeite em Mouriscas está montado com todos os requisitos modernos, tendo energia própria produzida por um dínamo eléctrico. Na Comissão de Melhoramentos, foi a sua carteira que financiou a Fonte «Dr. Manuel Marques Esparteiro», outro tanto sucedendo com o caminho vicinal, obras que tiveram a comparticipação do Estado. É Jesuvino Ferro um chefe de família exemplar, marido amantíssimo e pai extremoso. Além de suas quatro filhas, conta mais dois filhos, o engenheiro electrotécnico sr. Manuel de Oliveira Ferro e o capitão de cavalaria sr. Abílio de Oliveira Ferro, actual chefe do gabinete do insigne governador de Macau, também ilustre Mourisquense. Não se pode negar que a vida e obra do sr. Jesuvino Ferro tem exercido uma influência salutar nas coisas Mourisquenses, que tanto lhe devem, e nas do próprio concelho que se honra de o contar como um dos seus filhos mais dilectos.

Presidente condecora mourisquense

17.06.07 | João Manuel Maia Alves

No passado dia 10 de Junho o Presidente da República condecorou em Setúbal personalidades marcantes da vida nacional. Oportuno é, por isso, recordar a vinda a Abrantes, em 1980, do presidente de então, General Ramalho Eanes, acompanhado da Dr.ª Manuela Eanes, a fim de condecorar o Dr. Manuel Santana Maia, um médico mourisquense que dedicou várias décadas da sua vida aos seus doentes. 

M_Santana_Maia.jpgDr. Manuel Agostinho Santana Maia, benemérito médico mourisquense

Baseia-se este artigo no“ Notícias de Abrantes” de 23 de Setembro de 1980. 

O jornal perguntou ao General Ramalho Eanes o significado da sua presença numa cerimónia que, à partida, poderia aparecer eminentemente regional, ao que o presidente respondeu : "“Creio que há um certo numero de valores que devem ser, primeiro, evidenciados e, segundo, acarinhados. Nesses valores eu situo, como de importância primordial, o da fraternidade. E aqui, hoje, comemora-se fundamententalmente isso, o homem que dedicou toda a sua vida profissional a lidar com os outros, não duma maneira qualquer, mas desta maneira especial: com amor. Entendia que era, portanto, necessário realçar este facto. Por outro lado, e no campo da Medicina, infelizmente, e por força da própria evolução, está-se a perder um pouco aquilo que era característico: a existência do médico que era médico, que era conselheiro e que era confidente. O médico não era apenas um técnico, mas um técnico e um homem preocupado com os outros homens. Este caso é um exemplo e interessava que este exemplo fosse realçado, sobretudo para os médicos mais jovens". 

”Seguem-se excertos da reportagem da cerimónia de condecoração que o jornal publicou. 

Dr. Santana Maia condecorado pelo Presidente da Republica 

"Graças a Deus, o meu velho e combalido organismo conseguiu triunfar da prova de resistência a que os meus amigos o submeteram". Pouco passava das 18 horas da tarde. O Dr. Santana Maia podia enfim descansar de todas as emoções vividas nas últimas horas. Era o termo da homenagem que a cidade prestou ao velho clínico de 85 anos e que teve o seu ponto alto na imposição da Ordem da Benemerência pelo Presidente da Republica. 

O General Ramalho Eanes havia sido recebido, nos limites do concelho, pelo Governador Civil e autoridades concelhias. O Presidente da Câmara, feitas as apresentações protocolares, tomou lugar no carro presidencial e a caravana dirigiu-se em grande velocidade para Abrantes. Na Câmara Municipal teve lugar a cerimónia oficial de recepção. Trocaram-se as habituais saudações, tendo o Presidente do Município feito a entrega da medalha ao Presidente da Republica. 

Assinado o Livro de Honra da cidade e feita uma visita às instalações da Câmara, dirigiu-se a comitiva, a pé, para o Convento de S. Domingos, onde iria ter lugar a sessão solene em honra do Dr. Santana Maia. 

Com a sala repleta de público, abriu a sessão e usou da palavra o Presidente da Câmara de Abrantes. No seu breve improviso, considerou uma honra a visita do Presidente da República a Abrantes, mas igualmente um dever aquele reconhecimento público por parte da Nação para com um homem que "dedicou toda a sua vida ao bem do povo deste e doutros concelhos que serviu".

 

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Atingiu-se o momento mais solene. A imposição das insígnias da comenda da Ordem da Benemerência ao Dr. Manuel Agostinho Santana Maia. De pé e numa vigorosa salva de palmas, todos os presentes se associaram ao gesto oficial. 

Justificando o acto, Ramalho Eanes começaria por dizer que "há, felizmente, muitos homens que dão sombra como as árvores, acolhem, estendem os ramos e protegem os que se aproximam. É o Dr. Santana Maia um destes homens". Continuou salientando que "o espírito cristão de quem acolhe irmãos necessitados" terá tido a sua justa recompensa naquela manifestação de reconhecimento, ele que, aos 85 anos, nem sequer dispõe de uma pensão de reforma. E o Presidente da Republica terminou dando ao homenageado um abraço "em nome de todos os Portugueses". 

Agradeceu, por fim, o Dr. Santana Maia esta homenagem pública a que a presença do Presidente da República concedeu um brilho e uma dignidade que ele estaria longe de esperar.

Falar mourisquense (12)

05.06.07 | João Manuel Maia Alves
EM BEM NÃO – Brevemente, dentro de pouco tempo. (Em bem não é noite. Em bem não é Inverno. Em bem não é a hora do comboio.)

DESASSEMELHO – Com aspecto ridículo. (Que desassemelho é esse? Vens aí com a roupa cheia de palha. Nos casamentos de gente fina aparecem sempre muitos desassemelhos.)

DE TARDE EM TARDE – Com pouca frequência. (Ele trabalha em Coimbra e só cá vem de tarde em tarde.)

ARANHO – Aranhiço (aranha de patas finas e longas). (Nas cavalhadas das festas de verão os concorrentes montavam a cavalo e tinham que em corrida partir um cântaro suspenso duma corda e evitar levar com os cacos ou com o que estava dentro. Às vezes o cântaro estava cheio de aranhos.)

MEIOS DE LEI – Processos ou exigências legais. (Aquela herança vai resolver-se nos tribunais. São meios de lei.)

PAPEL DE COMÉDIAS – Situação cómica. (Passaram ontem o dia a discutir e chamar-se ladrões uns aos outros. Foi um papel de comédias.)

PAPELINHO – O mesmo que “papel de comédias”. (No casamento do sobrinho, ele embebedou-se e fartou-se de contar histórias engraçadas da família. Foi um papelinho.)

FALCATEIRO – Indivíduo pouco sério. Será corrupção de falcatrueiro? (Ele prometeu vir cá hoje, mas não apareceu; é um falcateiro qualquer.)

ALBURQUEIRO – O mesmo que “falcateiro”. (Ele é um albuqueiro que tem vigarizado toda a gente, a começar pela família.)

AH MANINO – Corrupção de “ah menino”, usada para realçar ou reforçar algo que se diga. (Ah manino, aquilo é que foi chover toda a noite!)

ARMADO AO DINHEIRO – Diz-se de objecto posto à venda e de utilidade duvidosa. (Acho que essa máquina de fazer bolos é uma coisa armada ao dinheiro.)

QUARTA – Pequeno cântaro com asa. (Esta quarta faz a água muito fresca. Quando ele ia para o trabalho, levava sempre uma quarta com água fresca.)

CANGALHADA – Palavra de uso muito corrente, significando coisa, em geral de pouco valor. (Mas que cangalhada é essa? Ele anda sempre a comprar cangalhadas para casa; algumas não servem para nada.)

MOXALHO – Pilha de coisas amontoadas sem cuidado. (Deixaste a roupa da cama num moxalho.)

João Manuel Maia Alves