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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Ópera nas festas de Verão

30.01.07 | João Manuel Maia Alves
Em Mouriscas realizaram-se por volta dos anos 1950 e 1960 grandiosos festejos de Verão. Ainda não se falou deles neste blogue. Aliás, há muitos assuntos referentes a Mouriscas ainda não abordados, apesar de o blogue se publicar desde Agosto de 2004, quase sempre com artigos semanais. Não estão esquecidos.

Vamos hoje falar duma noite das festas de Verão em que se cantou ópera. Ópera???!!! Este não deve estar bom da cabeça poderão comentar alguns leitores. É verdade, como vamos ver, houve uma noite das festas de Verão de Mouriscas em que se cantou ópera.

Actuou nas festas de Verão de Mouriscas a fina-flor dos artistas de então – cançonetistas, fadistas, tocadores de guitarra e viola, acordeonistas. Também tivemos a presença de talentosos pianistas, declamadores e dançarinos. Numa noite de 1954 ou 1955 compareceram no Largo do Espírito Santo, nas Ferrarias, três notáveis artistas – os cantores Luís Piçarra, Max e Joaquim Cordeiro. Presente estava também o locutor da rádio Miguel Simões.

Diga-se antes de continuar que este artigo é escrito totalmente a partir da memória do autor. Falhas são possíveis, mas é convicção do autor que o essencial está certo.

O elenco que nessa noite actuou em Mouriscas era de molde a proporcionar um espectáculo de sonho. Luís Piçarra e Max eram artistas com nome feito, capazes de cantar e encantar. Assim sucedeu nessa noite de Verão mourisquense, com o largo a abarrotar de mourisquenses e visitantes. Deliciaram os presentes. Joaquim Cordeiro era muito divertido, dado o carácter humorístico dos versos que cantava. A partir de “Uma Casa Portuguesa”, de Artur Fonseca, compôs “Uma Casa Bera”. Paródias humorísticas construiu a partir de outras conhecidas canções. Quando apresentava as suas composições, fazia-o mais ou menos assim: “Vou cantar ‘Uma Casa Bera’, uma criação de Artur Fonseca, uma má-criação minha”. Joaquim Cordeiro deliciou também o público mourisquense. A certa altura disse em ar de brincadeira qualquer coisa do género: “Olha para este peitoril, oh Piçarra”. O que Piçarra cantava exigia bons pulmões.

Também Miguel Simões encantou o público com a sua forma de apresentar os artistas e com as suas anedotas. Também foi interessante ouvir como a sua carreira estava ligada à de Max.

A certa altura da actuação de Luís Piçarra, conhecido hoje de muita gente por cantar o hino do Benfica, Miguel Simões anunciou ao público mourisquense mais ou menos isto: “E agora, minhas senhoras e meus senhores, Luís Piçarra vai cantar para todos vós o ‘Fígaro’ da ópera ‘O Barbeiro de Sevilha’, de Rossini. Seguiram-se mais ou menos cinco minutos em que Piçarra cantou em italiano esse belíssimo trecho de ópera. A maior parte dos mourisquenses e visitantes reunidos nessa noite no Largo do Espírito Santo em Mouriscas nunca tinha ouvido cantar ópera. Muitos não voltaram a ouvir. Todos devem ter gostado mesmo sem perceber os versos.

Foi assim esta noite mágica dos festejos de Verão de outros tempos em Mouriscas. Oxalá este artigo tenha criado o desejo de recordar ou de saber mais sobre estas festividades. Ficam prometidos mais artigos sobre o assunto – sem compromissos com datas.

Já agora um pouco sobre esse Fígaro da peça que Piçarra cantou em Mouriscas. “O Barbeiro de Sevilha” é uma ópera ou seja uma peça de teatro cantado e acompanhado por uma orquestra. É uma ópera cómica em que o Conde de Almaviva deseja casar com a jovem Rosina, pupila do velho Dr. Bártolo, que, por causa do seu avultado dote, também a quer desposar. O conde é ajudado pelo barbeiro Fígaro, um factótum, isto é um fura-vidas, um indivíduo que se envolve em múltiplas actividades. No trecho cantado por Piçarra, Fígaro entra em cena pela primeira vez e faz galas das suas capacidades. Aqui vai um excerto para termos uma ideia do que, nessa já longínqua noite de Verão mourisquense, Piçarra cantou com a sua potente voz.

Ah, que vida bela, que grande prazer, para um barbeiro, de qualidade, de qualidade!
Ah, bravo, Fígaro, bravo, bravíssimo, bravo! Lá ran lá lera, lá ran lá lá. Afortunadíssimo és na verdade! Lá ran lá lera, lá ran lá lá. Pronto a fazer tudo, de noite e de dia sempre a dar voltas movendo-se está. Melhor bocado para um barbeiro, vida mais nobre, não, não há. Lá ran lá lera, lá ran lá lá. Navalhas e pentes, bisturis e tesouras às minhas ordens tudo aqui está, são os recursos pois do ofício com a senhorinha, com o cavalheiro. Ah, que bela vida, que grande prazer, que grande prazer para um barbeiro de qualidade, de qualidade! Todos me chamam, todos me querem, mulheres, rapazes, velhos, raparigas. Traz a peruca … rápido a barba… traz as sanguessugas, rápido a carta! Fígaro, Fígaro, Fígaro! Ai de mim! Ai de mim! Que fúria! Ai de mim! Que multidão! Um de cada vez, por caridade! Fígaro! Estou aqui. Eh, Fígaro! Estou aqui. Fígaro cá, Fígaro lá, Fígaro cá, Fígaro lá, Fígaro acima, Fígaro abaixo, Fígaro acima, Fígaro abaixo! Rápido, rapidíssimo sou como o raio, sou o factótum da cidade!

Nessa noite de Verão ouviram-se em Mouriscas vários estilos musicais, desde as canções humorísticas de Joaquim Cordeiro a um trecho de ópera de Luís Piçarra, passando pela linda voz madeirense de Max. Foi um serão de magia e encanto, como o foram muitas outras noites das festas de Mouriscas de há coisa de meio século.

João Manuel Maia Alves

O padre-pensionista e a banda excomungada

24.01.07 | João Manuel Maia Alves
Realizaram-se este fim-de-semana as festas de S. Sebastião. Abrilhantou as festividades a Banda Filarmónica Mourisquense. Há 83 anos outra banda, a do Rossio ao Sul do Tejo, esteve presente nestas festas, mas, na sequência da sua participação, foi excomungada. Já contámos isso num artigo de 7 de Julho do ano passado. Voltamos a publicá-lo, com pequenas alterações, porque os acontecimentos nele registados merecem ser recordados a propósito das festas de domingo passado.No mês de Maio de 2006 saiu neste blogue um artigo sobre o Pe. Severino Ferreira Sant’Anna e o seu falecimento, ocorrido em 1903. O Pe. Henrique Neves, pároco de Mouriscas, é referido como tendo estado presente no funeral. Ninguém imaginaria então que o Pe. Henrique de Oliveira Neves, natural de Boa Farinha, perto de Vila de Rei, iria ser protagonista duma acesa disputa político-religiosa anos mais tarde. Voltámos a encontrar o Pe. Henrique no artigo “Comício republicano”, de Agosto de 2006. António José de Almeida e outros vultos republicanos fizeram em Mouriscas um comício, em 3 de Fevereiro de 1907. Dentro de dias fará 100 anos! Depois do comício, António José de Almeida foi cumprimentar o Pe. Henriques Neves, que parece ter ficado agradado com a gentileza. Vejamos, então, o que se passou depois com este padre e a história da excomunhão da banda.padre_henrique.JPGPe. Henrique de Oliveira NevesA República, implantada em 1910, tomou várias medidas que desagradaram à Igreja Católica. Para falar de coisas terrenas, foram abolidas ou expropriadas fontes de rendimento dos párocos como as propriedades agrícolas anexas às igrejas ou residências paroquiais. Assim, os padres se encontraram sem condições básicas de subsistência. O novo regime criou pensões para os padres. Claro que um padre que aceitasse a pensão do Estado ficava numa situação de dependência. O Estado esperava dele que, no mínimo, não hostilizasse o novo regime. Era certa a ruptura com a hierarquia, que tinha proibido os padres de aderir às pensões.Na nossa região alguns padres aceitaram, nos finais de 1911, as pensões. Um deles foi o já mencionado o Pe. Henrique. Foi também o único que se manteve padre-pensionista.O Pe. Henrique não podia encontrar nenhuma compreensão por parte do bispo de Portalegre, D. António Moutinho, que tomou posições muito firmes perante as medidas da República. Os superiores hierárquicos do Pe. Henrique retiraram-lhe o poder de exercer funções eclesiásticas, não reconhecendo a validade de missas, casamentos, baptizados e outros actos de culto que viesse a praticar. O Pe. Henrique não abandonou a igreja matriz, onde continuou a exercer as funções de que a hierarquia o tinha privado. O bispo de Portalegre nomeou um novo pároco – o Pe. Nogueira, que realizava os actos do culto na capela do Espírito Santo, nas Ferrarias. Tínhamos agora dois padres em Mouriscas. Os dois têm partidários. Famílias dividem-se. Há violência física e verbal. Esta situação mantém-se durante muitos anos e vai envolver mais dois bispos. Um deles foi D. Manuel Mendes da Conceição Santos, que sucedeu a D. António Moutinho. Confessou ao mourisquense Monsenhor Martinho Lopes Maia ter tido muitas preocupações por causa da disputa de que vimos falando.Algo muito sensacional tem de acontecer em Mouriscas para ser noticiado num jornal de Portalegre. Pois isso aconteceu com uma medida do terceiro bispo de Portalegre envolvido neste caso, D. Francisco Maria Frutuoso, que sucedeu a D. Manuel Mendes da Conceição Santos. Vamos ver o que se passou.No início do ano de 1924, o Pe. Henrique, padre-pensionista há uns bons anos e ainda privado das suas funções, convidou a Filarmónica de Rossio ao Sul do Tejo para tocar nas festas de S. Sebastião. A banda aceitou e o bispo excomungou-a. Os seus membros ficaram proibidos de receber sacramentos e de ser padrinhos até serem absolvidos. A excomunhão desta banda foi levantada em Setembro do mesmo ano de 1924, em face dum apelo, com ameaças e protestos, da respectiva direcção.Felizmente, guerras político-religiosas como esta pertencem ao passado. Podem ser recordadas quase sem emoção, como se tivessem acontecido em tempos e locais muito afastados.Bibliografia consultada: A PRIMEIRA REPÚBLICA EM ABRANTES, de José Martinho Gaspar, Edição Palha de Abrantes, Abrantes

Comício republicano

23.01.07 | João Manuel Maia Alves
Este artigo foi publicado em 27 de Agosto do ano passado.Estamos a poucos dias de 3 de Fevereiro de 1907. Nessa data, quase há um século, realizou-se em Mouriscas o comício de que fala título. Por isso, foi considerado interessante publicar de novo o artigo. ph_ajalmeida2.jpgAntónio José de AlmeidaEsta barbuda criatura pertence à história de Portugal. Foi antes de 1910 vulto importante do movimento republicano – como deputado, jornalista e orador. Depois foi, além de outras coisas, Presidente da República. Durante os quatro anos do seu mandato presidencial dirigiram o país dezassete chefes de governo, alguns dos quais estiveram à testa de mais de um executivo. O seu nome foi António José de Almeida. Tem uma estátua na avenida de Lisboa com o seu nome. O que fica dito pode ser muito interessante, mas não mereceria uma linha sequer se António José de Almeida não tivesse pertencido à história mourisquense, já que este blogue é dedicado a Mouriscas – a terra e as pessoas com ela relacionadas. Na verdade, António José de Almeida também pertence à história de Mouriscas, pois na manhã do dia 3 de Fevereiro de 1907 – quase há um século – veio fazer um comício a Mouriscas. Noutros tempos ouvia-se dizer que antes de 5 de Outubro de 1910 deslocavam-se a Mouriscas líderes republicanos de Lisboa para propagandear as suas ideias à saída da missa. Aquando duma dessas visitas um mourisquense desconfiado da generosidade das promessas feitas teria dito algo como “o meu burro não ronca pela albarda, mas pela ração”, frase pouco própria para ser usada por gente fina mas que mostra profunda sabedoria. Durante muito tempo esta frase era muito usada em Mouriscas para mostrar desconfiança de certas promessas. Penso que ainda hoje se ouve. Segundo algumas pessoas, essa notável frase teria sido proferida aquando duma visita de António José de Almeida. Também se contava que duma das vezes um orador prometia, como faziam frequentemente os republicanos, “bacalhau a pataco” quando foi interrompido por um dos presentes que perguntou se S. Exa. não podia ir já mandando algum.Não se vêem razões especiais para líderes republicanos da capital virem a Mouriscas. Não era fácil as pessoas deslocarem-se e havia muitas outras localidades onde o número potencial de “conversões” era bem maior. No entanto, pelo menos uma vez, fizeram um comício em Mouriscas e António José de Almeida foi a principal vedeta. Vamos ver o que aconteceu segundo os semanários “Jornal de Abrantes” e “O Abrantes” de 10 de Fevereiro de 1907.Pelas 9 da noite de 2 de Fevereiro de 1907, um sábado, desembarcaram do comboio na estação de Abrantes vultos republicanos de primeira grandeza. Dois deles – António José de Almeida e Bernardino Machado - viriam a ser presidentes da república. Viajaram para Abrantes, onde pernoitaram, com a intenção de fazer na cidade um comício na tarde do dia seguinte. Na manhã seguinte, um lindo domingo de sol de inverno, segundo o semanário “O Abrantes”, António José de Almeida deslocou-se a Mouriscas para falar aos seus habitantes. Fê-lo a pedido do mourisquense Manoel Lopes Esteves. Este homem foi um dos mais assanhados republicanos de Mouriscas. Foi muito falado durante décadas pelo seu envolvimento em vários conflitos. A imagem de N. Sra. dos Matos foi partida por pessoas que assaltaram a capela. O nome de Manoel Lopes Esteves esteve associado a esse episódio.No comício de Mouriscas António José de Almeida foi o principal orador. Talvez as suas qualidades oratórias e tantas e tão belas promessas feitas tenham levado um dos presentes a genialmente afirmar: “o meu burro não ronca pela albarda, mas pela ração”. António José de Almeida afirmou também que a República não era contra a Igreja ou contra os padres, o que mostra que sabia onde estava a falar; diga-se, aliás, que tais palavras estiveram de harmonia com o seu comportamento posterior. Em coerência com tais afirmações, foi depois cumprimentar o pároco, Padre Henrique Neves, que segundo o “Jornal de Abrantes” ficou cativado com a gentileza. Este padre viria a aceitar uma pensão do Estado em 1911, o que deu origem a um conflito político-religioso em Mouriscas que durou à volta de vinte anos. Lembram-se do artigo “O padre-pensionista e a banda excomungada”, de Julho passado?De Mouriscas os visitantes republicanos foram para Abrantes, onde à tarde participaram noutro comício. À noite realizou-se um banquete. Houve numerosos brindes, um deles do já referido Manoel Lopes Esteves, em nome dos correlegionários de Mouriscas. Só outra freguesia do concelho – S. Miguel do Rio Torto – teve um brinde semelhante. Material consultado: Primeiras e segundas páginas dos semanários “Jornal de Abrantes” e “O Abrantes” de 10 de Fevereiro de 1907, transcritas no livro “ABRANTES – 1916. Processo de elevação a cidade”, editado em 1992 pela Câmara Municipal de Abrantes, da autoria de Isabel Cavalheiro e Eduardo Campos e prefaciado pelo Dr. Humberto Pires Lopes, mourisquense então presidindo ao município. João Manuel Maia Alves

Prof. Manuel Marques Esparteiro (2)

17.01.07 | João Manuel Maia Alves
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<img alt="m_esp.JPG" src="http://motg.blogs.sapo.pt/arquivo/m_esp.JPG" width="136" height="130 border="0" />Manuel Marques Esparteiro nasceu em 10 de Fevereiro de 1893, nos Engarnais Cimeiros, lugar da freguesia de Mouriscas. Foram seus pais Luiz Marques Esparteiro, comerciante, e Engrácia Lopes. Tanto ele como os seus quatro irmãos e as suas três irmãs estudaram e foram pessoas de relevo.Frequentou em Elvas o Colégio Elvense, do mourisquense Monsenhor Martinho Lopes Maia, onde cursou estudos secundários. Coimbra viria a marcar a sua vida – lá estudou, foi professor e viveu grande parte da sua vida.Depois de concluir na Universidade de Coimbra a formatura em Ciências Matemáticas, tirou o curso da Escola Normal Superior da mesma cidade e foi professor nos liceus José Falcão e D. João III, também da cidade do Mondego. No entanto, outros voos o esperavam, o que não surpreende, pois, como vimos no artigo anterior, concluiu o seu bacharelato com dezanove valores. A velha universidade iria abrir-lhe as portas.Da sua carreira docente na Universidade de Coimbra constam as seguintes etapas: Preparador Conservador do Gabinete de Física em 3-2-1920, 2º Assistente em 24-3-1922, 1º Assistente em 7-5-1928, Professor Auxiliar em 18-3-1929, Professor Catedrático em 17-1-1930. Para aceder a alguns destes cargos teve de prestar provas públicas.Vimos no artigo anterior que Manuel Marques Esparteiro fez o seu doutoramento com a elevada classificação de 19 valores. Deve ter tido brilhante o seu desempenho se atendermos à qualidade dos arguentes ou examinadores, um deles o sábio Prof. José Vicente Gonçalves, notável matemático do século XX. Tinha então 31 anos – era um jovem com o futuro à frente.Publicou os seguintes trabalhos: “O Ensino das Derivadas nos Liceus”, “Conceito de Integral Definido” e “Elementos da Teoria das Cúbicas”Já nos anos 20 do século passado Mouriscas tinha várias pessoas formadas, mas ser professor universitário conferia um especial prestígio. Por isso, Manuel Marques Esparteiro, foi uma glória de Mouriscas, uma glória visível que não vivia numa torre de marfim, pois frequentemente visitou a sua terra até ao fim da vida.Manuel Marques Esparteiro era um professor com justa fama de exigente. Era temido porque muitos sucumbiam nos seus exames. Ensinava cadeiras obrigatórias para todos ou quase todos os alunos da Faculdade de Ciências. Também eram seus alunos os estudantes que faziam em Coimbra os preparatórios dos cursos de engenharia que depois completariam em Lisboa ou no Porto. Como em Coimbra as faculdades funcionavam perto umas das outras, Manuel Esparteiro era conhecido da generalidade dos estudantes da universidade, muitos dos quais também sabiam da existência de Mouriscas por sua causa. Mesmo na cidade de Coimbra em geral era muito conhecido Um dos costumes de Coimbra era o das latadas, cortejos em que os caloiros, ridiculamente vestidos, transportavam cartazes de crítica aos professores, à universidade, à cidade, à situação política. Manuel Esparteiro era frequentemente visado. Durante décadas Manuel Esparteiro foi quase uma lenda viva. Em qualquer canto do país e do Ultramar havia alguém que tinha sido seu aluno ou dele tinha ouvido falar.Contavam-se de Manuel Esparteiro muitas histórias. Aqui vai uma dos anos 30, encontrada na Internet. O jovem Carlos Faustino estudava em Coimbra para os preparatórios para ingresso na Escola do Exército e, ao mesmo tempo, jogava futebol na Académica. Houve professores amantes de futebol que generosamente lhe facilitaram a vida, mas a Álgebra Superior correu-lhe mal – o professor Manuel Marques Esparteiro não foi em futebóis e chumbou-o sem apelo nem agravo. Esta reprovação deu muita alegria às hostes da Académica, por assim poderem contar com o jogador por mais tempo.Manuel Esparteiro passava muito tempo em Mouriscas, acolhendo-se à casa onde nasceu. Conhecido por muitos como “o lente Esparteiro” ou “o Esparteiro de Coimbra”, salientou-se também como caçador, transportando de Coimbra vários cães de caça nas alturas apropriadas. Participou em caçadas com importantes figuras do estado.Outra particularidade muito conhecida de Manuel Marques Esparteiro era o seu conhecimento de dietas alimentares, de que era fervoroso apóstolo. Também defendia o jejum para manter e recuperar a saúde. A Fonte da Ladeira, na Gelfa, um dos lugares de Mouriscas, tem o nome deste ilustre mourisquense. O mesmo sucede com a via que parte da igreja em direcção à actual estação de caminho de ferro.Quando Manuel Marques Esparteiro atingiu a idade de 70 anos, em 10 de Fevereiro de 1963, deu a última aula e jubilou-se. Viveu ainda muitos anos, mas não resistiu às consequências dum atropelamento e faleceu em 18 de Abril de 1984. Foi sepultado em Mouriscas, em jazigo de família.Estes foram alguns dados a respeito dum mourisquense de que muitos ainda recordarão a figura elegante e a cara de boa disposição de quem está de bem com a vida. O administrador deste blogue expressa os seus agradecimentos ao Prof. José Vitória, da Universidade de Coimbra, pelo envio de documentos do Arquivo da Universidade de Coimbra relativos ao Prof. Esparteiro Agradecimentos também ao Dr. Rui Lopes, de Coimbra, pelo envio duma foto donde foi possível destacar a figura do Prof. Manuel Marques Esparteiro.Na redacção deste artigo foi utilizada informação da Grande Enciclopédia Luso-Brasileira.

Prof. Manuel Marques Esparteiro

09.01.07 | João Manuel Maia Alves
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<img alt="m_esp.JPG" src="http://motg.blogs.sapo.pt/arquivo/m_esp.JPG" width="136" height="130 border="0" />Manuel Marques Esparteiro, nascido em Mouriscas em 1893, foi um brilhante professor de Matemática na Universidade de Coimbra. Vamos ver um pouco da sua vida, começando por examinar dois documentos referentes à sua carreira académica, respeitando a ortografia em que foram escritos, com quase total ausência de acentos.---- Bacharel com 19 valores ---- Manuel da Silva Gaio , Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, secretario da mesma Universidade:Certifico, em face do Livro das Informações dos Bachareis nas Faculdades Academicas, que Manuel Marques Esparteiro, filho de Luiz Marques Esparteiro, natural de Mouriscas, concelho de Abrantes, districto de Santarem, Bacharel na Secção de sciencias matematicas, fora votado em Congregação da Faculdade de Sciencias de vinte oito de julho de mil novecentos e dezassete com a seguinte informação final: Em merecimento literario: Muito Bom, com dezanoves valores.A presente vai firmada com o selo branco desta UniversidadeSecretaria da Universidade de Coimbra, em 2 de novembro de 1917---- Doutorado com 19 valores ----Universidade de CoimbraFaculdade de Sciencias1ª SecçãoSciencias matematicasDoutoramento do BacharelManuel Marques Esparteiro- em 30 de Julho de 1924Aos trinta dias do mês de Julho de mil novecentos vinte e quatro compareceram na Sala &#8220;Gomes Teixeira&#8221; &#8211; dos Gerais da Universidade de Coimbra os Exmos. Doutores João José de Antas Souto Rodrigues, Luciano Antonio da Silva, Diogo Pacheco de Amorim; João Pereira da Silva Dias e José Vicente Martins Gonçalves, professores da 1ª Secção da Faculdade de Sciencias da mesma Universidade &#8211; a fim de constituídos em juri, presidido pelo primeiro dos mencionados professores, procederam ao exame de Doutoramento na referida Secção, do Bacharel Manuel Marques Esparteiro, filho de Luís Marques Esparteiro, natural de Mouriscas, concelho de Abrantes, distrito de Santarem.Argumentaram na dissertação do candidato intitulada &#8220;Sobre o conceito do Integral definido e sua generalizações&#8221; durante o tempo legal de uma hora, nos termos do § unico do artigo 31º do Decreto com força de lei de 1911, do artigo 17 do Regulamento das Faculdades de Sciencias de 22 de agosto de 1911 e em harmonia com a indicação do artigo 13º do Decreto numero 4:647, de 13 de Julho de 1918 &#8211; os vogais do juri Exmos. Doutores Diogo Pacheco de Amorim e José Vicente Martins Gonçalves.Terminado o exame &#8211; que, segundo o disposto no citado artigo 17º do Regulamento constava apenas dessa prova &#8211; e procedendo-se à votação, foi o candidato, Bacharel Manuel Marques Esparteiro, aprovado com a classificação de Muito bom com dezanove valores &#8211; ficando graduado Doutor em Sciencias matemáticas.De tudo para constar se lavrou este termo que vai ser assinado pelos Exmos. Membros do juri, depois de lido por mim José Maria Antunes, segundo oficial da Secretaria geral da Universidade de Coimbra: servindo de secretario o subscrevi.(Continua)O administrador deste blogue expressa os seus agradecimentos ao Prof. José Vitória, da Universidade de Coimbra, pelo envio de reproduções dos documentos transcritos. Agradecimentos também ao Dr. Rui Lopes, de Coimbra, pelo envio duma foto donde foi possível destacar a figura do Prof. Manuel Marques Esparteiro.

ACATIM

02.01.07 | João Manuel Maia Alves
acatim_1.jpgSede e Centro de Dia - Fachada principalEm 8 de Outubro de 1983 um grupo de mourisquenses a residir na freguesia de Mouriscas ou em terras para onde tinham migrado, imbuídos de um espírito associativista que na sua aldeia já tinha feito nascer várias associações com carácter desportivo e cultural, decidiram criar uma nova associação de âmbito social que colmatasse algumas das necessidades dos idosos que ali residiam.Tinham consciência estes mourisquenses de que um elevado número de idosos – quase um terço da população – residia muitas vezes sem familiares ou mesmo vizinhos próximos, devido a um povoamento do tipo disperso e a uma forte emigração que se acentuara nos anos sessenta e auferia, na sua maioria, reformas pequenas. Tinham consciência de que as distâncias da sede do concelho ou de outros locais onde poderiam ser encontradas algumas respostas as tornavam impossíveis e, por último, tinham consciência que a resolução desta problemática não passava pelo Estado mas que teria que ser encontrada na sociedade civil.Foi deste modo que surgiu a ACATIM – Associação Comunitária de Apoio à Terceira Idade de Mouriscas que se propunha construir um edifício onde funcionasse um Centro de Dia e também fosse disponibilizado apoio domiciliário aos idosos que quisessem permanecer todo o dia nas respectivas habitações.Em 1991, no Lugar das Aldeias, numa zona agrícola e relativamente perto do centro da freguesia de Mouriscas, deu-se início à construção do Centro de Dia, cujos custos ultrapassaram os 120.000 contos (600.000 euros) e tiveram a comparticipação de 32.500 contos (162.500 euros) da Segurança Social. Esta construção foi possível com o empenho dos promotores, a solidariedade do povo de Mouriscas e de muitos outros benfeitores. Em 24 de Setembro de 1995 foi inaugurado o edifício, que dispõe de uma zona de lazer – pinhal – e uma zona ajardinada. A própria localização potencia uma maior saúde física e psíquica.Sendo uma instituição dirigida ao apoio a idosos, ao propiciar trabalho a uma quinzena de pessoas, a ACATIM situa-se como uma das fontes de maior emprego da freguesia. A ACATIM dispõe de duas valências – Centro de Dia e Apoio Domiciliário.Estas duas valências estão estatutariamente confinadas aos sócios da instituição e residentes na freguesia. A média na valência do Centro de Dia ronda os vinte utentes, enquanto que são prestados serviços no Apoio Domiciliário a mais de quarenta associados.Tendo como objectivo promover e contribuir para a manutenção do idoso no seu meio sócio-familiar, numa perspectiva de evitar ou reduzir o internamento, a ACATIM proporciona:- Alimentação;- Cuidados de higiene pessoal;- Cuidados de higiene habitacional;- Tratamento de roupas;- Apoio nos cuidados de saúde;- Actividades de animação sócio-cultural.Os utentes do Centro de Dia desenvolvem também actividades ocupacionais, tais como pintura, bordados, trabalhos manuais tradicionais e outros.Esta resposta social ao proporcionar só estas duas valências, não resolve os problemas de todos os idosos, nomeadamente os isolados e mais dependentes. Só o Lar pode responder a estas situações, estando as últimas direcções da Instituição apostadas na sua construção.CONTACTOS:Endereço: ACATIM, Lugar das Aldeias, 2200-671 MouriscasTelefone e Fax: 241871899 Correio electrónico: acatim@sapo.pt