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Monsenhor Martinho Lopes Maia nasceu na Quinta de Santo António, no Tojal, em 3 de agosto de 1877, e faleceu em Elvas, em 15 de novembro de 1963. Foi sepultado em Mouriscas, em campa rasa. Foram seus pais Joaquim Lopes Maia Pita e Maria de Oliveira. Era bisneto de António Ferreira Santana, homem de destaque na época, nascido em Alagoa, concelho de Portalegre, em 1789 e de Luísa Lopes, nascida por volta de 1801, na Cabeça de Alconde, freguesia de S. Vicente, do concelho de Abrantes. Deste casal descendem os Santanas com origem em Mouriscas.
A mãe de Monsenhor Maia pouco tempo sobreviveu ao nascimento deste filho, que a deixou com a saúde muito abalada. Na falta de mãe foi muito amparado e acarinhado por duas tias irmãs do seu pai: a Tia Rita, do Casal Fundeiro, e a Tia Eugénia, residente no Convento e sua madrinha. Recordava-as com frequência e com saudade e sentimento de gratidão: a primeira, porque, tendo vários filhos, o acarinhava e amparava como se seu filho fosse; a segunda porque, com o marido, também sempre o amparou e ambos organizaram a celebração da sua ordenação sacerdotal com grande pompa e muito gasto de seu bolso.
Falecida a mãe em 18 de maio de 1886 e com a saúde do pai também já precária e tudo agravado pelo forte abalo sofrido, o jovem Martinho, a par de uma quase autoaprendizagem das primeiras letras e mostrando já uma ilimitada capacidade de enfrentar a vida e remover todas as montanhas e dificuldades que viesse a encontrar, emprega-se como ajudante de caixeiro em Almada. Foi aí que recebeu a notícia da morte do pai, ocorrida em 21 de março de 1893, tendo ele portanto. 15 anos de idade.
Pouco tempo mais tempo duraria a sua estadia em Almada. Seguiu-se um ensaio de nova preparação para a vida o de aprendiz de alfaiate em Alvega, certamente devido ao facto de aí ser pároco, com enorme autoridade e fama de orador invulgar, seu tio, irmão do avô materno, Padre Severino Ferreira Santana, a quem este blogue dedicou dois artigos em abril e maio de este ano. Com a ajuda do Padre Severino e de duas tias também residentes em Alvega e muito cultas para sua época, o ainda jovem Martinho, sentindo-se pouco vocacionado para alfaiate, melhorou os conhecimentos de letras, incluindo o Latim, e de Aritmética.
Como a profissão de alfaiate não o seduzia, o jovem Martinho, com os conhecimentos já adquiridos, ensaiou mais altos voos. E assim, com 21 anos, era já professor de instrução primária em Castelo Branco, depois de formação obtida na Escola Normal desta cidade.
À mente do então professor Martinho Lopes Maia aflorava várias vezes a ideia de seguir a carreira sacerdotal. E meditando profundamente, concluiu que para tanto tinha vocação, cimentada por uma fé inabalável e por se recordar que sua mãe, que mal conhecera mas de quem tantas saudades tinha, havia expressado o desejo de ter um filho sacerdote.
Inscrito no seminário de Portalegre, foi o seminarista Martinho Lopes Maia dispensado tios estudos preparatórios já que se encontrava dotado das necessárias habilitações, sendo ordenado após três anos de frequência. A sua primeira missa foi celebrada em Mouriscas em 1900, dez anos antes da implantação da República.
Colocado como pároco da Chança e sentindo-se preterido na colocação em outra paróquia mais desejada, obteve uma licença para continuação dos estudos e matriculou-se no Curso Superior de Letras, em Lisboa, obtendo licenciatura ao fim do tempo regulamentar. Neste curso obteve conhecimentos aprofundados do Português e do Latim, mas também do Francês, que falava fluentemente, e do Inglês, línguas que lecionou durante anos no Colégio Elvense. Do Grego obteve um conhecimento elementar, tudo isto para além de algumas noções básicas do Hebraico e do Sânscrito.
No Curso Superior de Letras imediatamente se relacionou e estabeleceu uma estreita amizade com outro sacerdote, que perdurou pela vida fora, apesar de ele, com o aproximar da implantação da República, ter apostatado. Chamava-se João Lopes Soares. Um dos seus dois filhos, o Dr. Mário Soares, viria a ser Presidente da República.
(Continua)
Texto elaborado com base em apontamentos redigidos pelo Juiz Conselheiro Manuel Lopes Maia Gonçalves, sobrinho-neto de Monsenhor Martinho Lopes Maia.