Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Falar mourisquense (5)

29.03.06 | João Manuel Maia Alves
Vejamos mais alguns termos de Mouriscas.

PANTAR – Pôr. (No meu tempo trabalhava-se desde que o sol nascia até que se pantava.)

FULESTRIA – Proeza. Usa-se ironicamente, isto é para diminuir o valor do que alguém fez ou conseguiu. (Que grande fulestria ele ter comprado a pronto aquela casa grande! O pai deixou-o cheio de dinheiro.)

MAL DE CANGA, PIOR DE ARADO – Indica que uma situação não é melhor que outra anterior. (Estava mal sozinha. Em casa dos filhos a doença piorou. Mal de canga, pior de arado.)

BOTICA – Farmácia, medicamento. Estes significados estão hoje esquecidos. (Ele tem andado a tomar botica para a doença. Comprei na botica um remédio para a tosse.)

GALHOUFEIRO – Uso semelhante ao de galhardo em frases em que se comenta uma situação cómica ou crítica. (O carro está atolado e ninguém o consegue puxar. Ela está galhoufeira!)

LAMBÃO, LAMBOEIRA – Preguiçoso. Preguiça. (Nunca fez nada. É um lambão. Em vez de cuidar das fazendas que lhe deixaram entregou-se à lamboeira.)

LANZEIRA – Preguiça. (Estou com uma lanzeira tão grande que nem me apetece levantar-me.)

JUM – Jejum. (Tenho que ir em jum fazer umas análises.)

DESENJUAR-SE – Tomar a primeira refeição do dia. (Os homens vão desenjuar-se e depois começam a trabalhar.)

CAGARRACHO – Pequeno. (É um cagarracho. Não sai ao pai, que é um homenzarrão.)

BUSÕES – Superstições. Crenças sem base. (Dizem que faz mal ir à horta em certo dia da Páscoa. Acho que isso são busões.)

SEDE – A sede do Grupo Desportivo e Recreativo “Os Esparteiros”. (Quando ele era novo não perdia nenhum baile na Sede.)

CASEIRÃO - Casarão. (Ele vive só num casarão onde já moraram quinze pessoas.)

S. TOMÉ – Em tempos os mortos eram transportados em Mouriscas numa carreta de tracção humana. Foi usada a primeira vez no funeral de Tomé de Matos Paulo, da Bica. Por isso, lhe puseram o nome de S. Tomé.


João Manuel Maia Alves

Chico Coxo

22.03.06 | João Manuel Maia Alves
CHICO-8.JPGSempre de barrete na cabeça e cachimbo na boca, Chico Coxo foi uma personagem bem curiosa em Mouriscas. Sendo moleiro, deslocava-se constantemente para entregar farinha e recolher cereal para ser moído. Por isso, foi também uma figura muito conhecida. Para recordação dos que o conheceram e informação dos outros e, certamente com agrado de todos, este blogue regista algumas notas sobre essa figura do passado. De seu verdadeiro nome Francisco Marques, Chico Coxo nasceu em 8 de Dezembro de 1898 nas Ferrarias, lugar da freguesia de Mouriscas, sendo o segundo filho de João Marques e de Delfina Dias, tendo estes mais dois filhos e três filhas, todos já falecidos excepto a irmã mais nova, que em Abril fará 96 anos.Era conhecido por Chico Coxo por ter uma deficiência na perna e braço esquerdos, em resultado duma meningite, que o afectou ainda criança de colo. Foi levado ao Dr. Samuel, no Mação, que lhe receitou banhos nas Termas da Fadagosa e um aparelho ortopédico em cortiça, construído pelo pai, para manter a mão aberta. Aprendeu a arte de moleiro com o António Tojal e mais tarde trabalhou com os filhos Manuel e José Tojal, distribuindo foles de farinha por toda a freguesia. Possuía uma força física invulgar, conseguindo com uma só mão carregar a mula com dois sacos de cinco alqueires de cereal. Também conseguia cavar apenas com o braço válido.Em caso de divergência de opinião, fazia valer a sua. Quando se encontrava na azenha ou no cachão, o guarda-rios prescindia da rotineira verificação da validade das licenças à actividade de moagem.Por fim, tinha como principal ocupação accionar com uma manivela a “tarara”, máquina de joeirar cereais, existente na moagem da Fonte Velha. Quem passava na estrada podia ouvir o barulho característico da máquina e ver pela janela a cabeça de um homem idoso, de barrete, a fumar cachimbo, envolto numa nuvem de fumo. Sempre fumou cachimbo. Ele próprio fez alguns dos seus cachimbos. Também usou barrete durante toda a vida.Nunca casou. Faleceu na casa onde nasceu com cerca de oitenta anos.

Falar mourisquense (4)

15.03.06 | João Manuel Maia Alves
Continuemos com palavras e expressões usadas em Mouriscas.

CATALÃO – Pimento. (Gosto muito de catalões assados.)

BOM ARRANJO – Ter um bom arranjo era ter bens. Como comentário a namoros e casamentos era habitual ouvir-se frases do género “os dois têm um bom arranjo”.

GRAVE – Exigente com a comida. (Ai, não comes o feijão? És grave.)

ANDOR! – Usado para mandar alguém embora ou para indicar que deve ou pode ir-se embora. (Ele não se sente cá bem e quer voltar para a terra dele? Então, andor! Não faz cá falta nenhuma.)

ESTRAMPALHADO – Avariado, estragado. (Este relógio está estrampalhado.)

IGNORAR – Estranhar. (Ignoro aquela maneira de proceder.)

CATIVO - Que se suja com facilidade. (O branco é muito cativo.)

SAMPA – Tampa. Esta palavra que se ouvia há umas décadas da boca de pessoas mais idosas deve ter deixado de se usar completamente.

SAMPATIOSO – Teimoso. (Este moço é sampatioso. Só faz o que quer.)

MALTÊS – Vadio. (Quando ele era estudante, era um maltês; corria as terras à volta e raramente estava em casa durante as férias.)

MALTÊS DE BRONZE – Maltês. (Donde vens oh maltês de bronze?) Qual a origem desta estranha expressão? Talvez da rima “O maltês de bronze ganha dez e gasta onze”.

MALTESARIA – Actividade de maltês. (Ele raramente pára em casa; anda na maltesaria.)

CORRÉCIO – Vadio. (Quando ele era novo, era um corrécio; ia a todos os bailes e festas das terras à volta.)

CORRECÇÃO – Actividade de corrécio. (Ele passava o tempo das férias de verão na correcção.)

CUSTO – As refeições dum casamento. (Resolveram fazer o custo em casa dos pais da noiva.)


João Manuel Maia Alves

Francisco Lourenço Grossinho

08.03.06 | João Manuel Maia Alves
flg.JPGFrancisco Lourenço Grossinho nasceu em Mouriscas, no Casal dos Castanhos, a 13 de Dezembro de 1908 e faleceu no lugar do Tojal, da mesma freguesia, a 4 de Janeiro de 2002.Filho de agricultores, após a instrução primária ajudava em pequenas tarefas relacionadas com a agricultura.Aos 16 anos, ingressou na Repartição de Finanças/Tesouraria da Fazenda Pública de Abrantes, onde trabalhou até aos 22 anos.A experiência e os conhecimentos adquiridos naqueles seis anos levaram a que fosse convidado para integrar a comissão de avaliação de prédios urbanos do Concelho de Abrantes, comissão que tinha por objectivo ajudar a determinar a contribuição a pagar anualmente pelos referidos prédios.Foi frequentemente nomeado para peritagens que envolviam a avaliação de casas e/ou terrenos a serem expropriados para obras de utilidade pública.Foi igualmente, e por largos anos, nomeado pelo Tribunal para "fiel depositário" de bens a vender em hasta pública.Desenvolveu estas actividades até aos 90 anos, altura em que entendeu que devia parar e descansar.Entretanto, e durante praticamente toda a sua vida, foi inúmeras vezes convidado por particulares para ajudar na avaliação e divisão de bens herdados e na preparação de escrituras de partilhas e/ou de compra e venda.Durante muitos anos fez parte da Junta de Freguesia, primeiro como secretário, depois como presidente. Ao longo de todo esse tempo integrou a Comissão de Festas de Mouriscas. Os lucros dessas festas permitiram a construção da antiga Sede da Junta, o melhoramento de fontes e caminhos e deram um grande contributo para construção da nova Igreja Matriz e da Casa Paroquial.Desenvolveu grandes esforços para a electrificação de Mouriscas (tarefa muito difícil devido à grande dispersão dos "casais") e para o abastecimento público de água à Freguesia. Incentivou e colaborou na exploração e canalização da água da mina do Amieiral, na serra das Lercas. Transportava a cavalo, único meio de transporte possível naquelas paragens, a dinamite, os "rastilhos" e outro material necessário para a abertura da mina e das canalizações. A água era introduzida na conduta que abastecia os fontanários públicos de então e a 1a fase do abastecimento domiciliário. E é essa água que hoje corre, livre e abundantemente, na Fonte dos Amores, que a actual Junta de Freguesia construiu e embelezou.Foi um dos principais impulsionadores e promotores da Feira Anual de Mouriscas e apoiou desde o início a ideia da construção da Barragem do Negrelinho, obra idealizada e projectada gratuitamente pelo Eng° Jerónimo Dias Leitão.Foi ainda vereador da Câmara de Abrantes onde, por ser o vereador mais velho na altura, substituiu o Presidente aquando da Revolução do 25 de Abril.Queremos ainda acrescentar que as suas actividades ao serviço da comunidade decorreram sempre a par com a gestão das suas propriedades agrícolas, não muito numerosas, mas que, de qualquer modo, lhe exigiam tempo e atenção.Sem grandes estudos, foi um autodidacta que desempenhou sempre com dignidade e bom senso as missões que se impôs e as que lhe foram confiadas. E todo o seu trabalho ao serviço da Junta de Freguesia foi gratuito como, aliás, o de todos os outros elementos que exerceram tais funções antes do 25 de Abril.