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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Herói mourisquense

28.01.06 | João Manuel Maia Alves
O nosso conterrâneo Comandante António Marques Esparteiro trouxe a público, em 1968, os feitos de um ilustre mourisquense, Manuel Vaz Moreno, filho de Manuel Pires Soveral, que se distinguiu no serviço militar, enquanto praça, e pelo seu porte distinto e pelos seus valorosos serviços prestados à Nação foi nomeado capitão de infantaria e foram-lhe concedidas outras prestigiantes mordomias.Pela relevância do acontecimento e para maior divulgação, não resisto em publicar na integra, a notícia então publicada no Boletim da Agência Geral do Ultramar (Separata nº5, Ano 44, ano 44, p. 511-512), que homenageia tão ilustre Mourisquense.CAPA - IMAGEM-2.PNGA velha praça de Mazagão, em África, mandada construir por D. Manuel em 1509, em baía deserta da costa oeste marroquina, havia de sofrer, com bravura e destemor, o ataque da moirama aguerrida e valente, durante mais de dois séculos antes do seu abandono, pelo Marquês de Pombal, em Março de 1769.Marrocos, durante o período heróico das descobertas e conquistas, serviu de escola de guerra da gente portuguesa que se destinava ao além-mar.Em regra, um mancebo nobre, depois de receber instrução e educação na brilhante e ilustrada corte dos reis de Avis, velejava para as praças de Marrocos a adestrar-se no manejo das armas e a aprender ao vivo a táctica de guerra, em combate com o inimigo hábil, destemido e perito em toda a casta de estratagemas.Depois e só depois, o rei de Portugal o considerava apto a combater o turco e o árabe no mar da índia, o bravo e cruel malaio, o valente marata das índias, o fanático pirata chinês do longínquo Extremo Oriente, o o hábil e destemido frecheiro das terras brasílicas e, por último, o não menos terrível e perigoso pirata ou corsário europeu do Atlântico Norte.Em Mazagão, militava na praça de soldado mosqueteiro, desde o primeiro de Setembro de 1686, o natural de Mouriscas, Manuel Vaz Moreno, filho de Manuel Pires Soveral.Durante todo o tempo em que ali serviu, achou-se em todas as acções contra os infiéis, sendo sempre o primeiro no ataque e o último na retirada, procurando, por imperativo de pundonor e lealdade, os lugares em que havia honra a ganhar ou um dever a cumprir.Assim, cedo, Vaz Moreno, pelos seus feitos e porte distinto, se tornou o símbolo do soldado perfeito entre os seus pares.As inúmeras feridas recebidas, algumas de certa gravidade, em fossados, escaramuças e feros combates, naquelas terras áridas e quentes do termo de Mazagão, mais fortaleceram o seu ânimo combativo.Em 1686, um reduzido troço de portugueses em luta com forças muito superiores, depois de árduo e longo combate, por fatigados de acutiïar e matar infiéis, caíram prisioneiros e foram conduzidos para Argel onde jazeram por uns longos dois anos.O indómito Vaz Moreno, logo que se achou liberto, correu a unir-se aos seus companheiros de Mazagão para servir o rei com o seu valor e experiência.Ali foi seguidamente atalaia do campo e cavaleiro espingardeiro com cavalo e armas próprias, funções em que se avantajou a muitos, como habilíssimo em emboscadas e estratagemas de guerra, como lanceiro destro e, sobretudo, como guerreiro sem par na utilização das armas. Pêlos altos serviços prestados durante aqueles «15 anos e 12 dias continuados desde o primeiro de Setembro de 1686 a 12 de Setembro de 1701», houve mercês do hábito de Cristo, de escudeiro fidalgo e de cavaleiro fidalgo com os rendimentos correspondentes.Terminado o tempo de serviço nas praças africanas regressou a Portugal, e possivelmente a Mouriscas, para na quietude daquele lugar aprazível dar algum descanso ao corpo das fadigas daquela longa campanha militar.Entretanto, Portugal, baseado no Tratado de Tordesilhas, entendendo que as terras do Sul do Brasil, até ao Rio da Prata, lhe pertenciam, direito que a Espanha lhe contestava, enleou-se com esta em acesa controvérsia diplomática, até que D. Pedro II, em 1680 ocupou a ilha de S. Gabriel, 8 léguas de Buenos Aires, para servir de base à ocupação definitiva da região em litígio que viria a ser a Nova Colónia do Sacramento e, no século XIX, a República do Uruguai.A Espanha, porém, não aceitou o facto consumado e passou imediatamente ao ataque. O diferendo arrastou-se vários anos, com altos e baixos para as duas nações peninsulares, até que estas pelo tratado de aliança de 18 de Junho de 1701, o solucionaram, cedendo e renunciando a Espanha a todos os direitos sobre aquelas terras.Portugal tratou imediatamente de ocupar os territórios abrangidos pela aliança, fortificando Montevideu e Maldonado em 1701 e 1702.Na preparação e organização das forças a enviar à Nova Colónia, D. Pedro n não se esqueceu de aproveitar os serviços do valoroso e prestante Vaz Moreno, pois, por carta patente de 11 de Março de 1702, atendendo aos seus serviços, o nomeou capitão da 4.ª companhia de infantaria, uma das cinco que se formaram de novo para a guarnição da Colónia de Montevideu.A luta naquelas partes do império lusitano, reacendeu-se durante a Guerra de Sucessão, guerra em que as duas nações ibéricas enfileiraram em campos opostos.Vaz Moreno, decerto, não deixou de se ilustrar de novo nos recontros havidos, especialmente em 1704 e 1705.Este ligeiro escrito, foi apenas o pretexto para prestar humilde homenagem a este ilustre filho de Mouriscas que em terras estranhas, principalmente nas de moirama, soube, pelo seu alto valor ao serviço da pátria, honrar-se, honrando ao mesmo tempo o nome eterno de Portugal.Termina aqui a transcrição.Aqui deixo este escrito para que os mais novos conheçam este destemido Mourisquense. Terá esta ilustre cavaleiro fidalgo deixado descendentes em Mouriscas? Responda quem souber.Carlos Lopes Bento

Falar mourisquense

25.01.06 | João Manuel Maia Alves
Este é o primeiro artigo duma série em que examinaremos palavras e expressões típicas de Mouriscas. Umas estão esquecidas, outras continuam a usar-se. Algumas também se usam ou usaram noutras localidades.

Será usada uma ortografia, em certos casos discutível, que tentará corresponder à pronúncia.

As palavras e expressões serão dadas em maiúsculas, a que se seguirá o significado e, às vezes, uma explicação ou detalhe sobre o uso. Exemplos de utilização serão dados entre parênteses.

Comecemos então.

BOM AMORÁVEL. Amabilidade, afabilidade. (Fui atendido por um médico com bom amorável.)

SE. Às vezes usado erradamente em vez de “nos”. (Vamos-se embora. Levantámos-se ao meio-dia.)

CADOUCO. Envelhecido. (Ele está muito cadouco)

RUDO. Com dificuldade para aprender. (Ele andou na escola, mas era rudo para aprender. Ela é fraca em contas; era ruda na escola)

AGRIME. Íngreme. (Esta escada é muito agrime. A subida para aquele moinho é agrime.)

DIAS ASSELANADOS. Dias de festa. (Estes fatos eram usados só em dias asselanados.)

MAL-ANDAMOSO. Aplica-se a um caminho para indicar que se anda nele com dificuldade. (Dantes este caminho era mal-andamoso, principalmente na época das chuvas.)

ESTREVANTAR. Deixar de chover. (De tarde estrevantou e pudemos apanhar azeitona.)

ESTROUFENAR. Dissipar, gastar mal. (Ele já estroufenou tudo o que o pai lhe deixou.)

FOLAGATO. Queda. (Ele escorregou e deu um grande folagato.)

ESTAR NO CARTUCHO. Um homem casado que está no cartucho manda pouco lá em casa. Haveremos de dedicar um artigo à história desta curiosa expressão nascida bem ao sul de Mouriscas

Por hoje basta. Oxalá tenham gostado.

Anexos (3)

19.01.06 | João Manuel Maia Alves
Continuemos a tratar dos anexos que tinham em Mouriscas as casas de outras épocas.

Quase todas as casas tinham palheiros. Serviam vários fins. Havia palheiros para guardar palha e feno, de que se alimentavam animais de carga e tracção, como bois ou mulas. Outros serviam de habitação a cabras, ovelhas e animais de carga e tracção.

Alpendres eram anexos muito úteis das casas. Serviam finalidades como guardar carros e carroças, lenha e servir de abrigo a capoeiras de coelhos. Às vezes cabras e ovelhas dormiam debaixo de alpendres. Também os cães, em muitos casos, dormiam debaixo de alpendres; às vezes tinham casotas.

Praticamente toda a casa tinha um forno. Mesmo quem comprava o pão na padaria usava o forno de vez em quando, por exemplo, para cozer os bolos pelos Santos e para festas de casamentos e baptizados. O forno estava, em geral, debaixo dum alpendre, podendo estar na casita, de que já falámos.

A eira não costumava faltar. Era uma estrutura redonda de alvenaria. Servia para malhar trigo e feijão e debulhar trigo. Servia outros fins como secar figos. Era um local de que os miúdos gostavam para as suas brincadeiras. Por vezes, em vez da eira de alvenaria usava-se um bocado de terreno que se alisava e cobria com bosta. Quem passeia por Mouriscas pode observar muitas eiras. Oxalá se conservem.

Muitas casas tinham também um anexo com um alambique para destilação de figo ou bagaço de uva, obtendo-se uma aguardente caseira que tinha muitos apreciadores. Um lagar para pisar uvas podia existir também num anexo.

Muitas casas tinham uma cova do bagaço. Nela se guardava o bagaço que os lagares davam, juntamente com azeite, a quem lhes levava azeitona para moer. O bagaço era um alimento muito apreciado para alimentação de suínos.

Assim terminou esta viagem por tempos idos em que se falou de anexos das casas. Recordar é viver. Por isso, foi bom recordar.

João Manuel Maia Alves

Escola Profissional em Mouriscas

12.01.06 | João Manuel Maia Alves
carpent.jpgA Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes, localizada em Mouriscas, foi criada em 1989 com a designação de Escola Profissional de Agricultura de Abrantes sendo a primeira escola profissional agrícola de natureza pública a surgir em Portugal.Em 2000 foi transformada em escola pública, sendo-lhe dada a designação actual de Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA).A frase latina que se pode base do logotipo da escola, no início deste artigo, traduz-se em português por ”Os vindouros colhem os teus frutos”, isto é, não devemos pensar só em nós e no tempo presente, mas também semear e plantar para as gerações futuras para que elas possam beneficiar dos nossos esforços. A escola dispõe de uma quinta com 63 hectares, a Herdade da Murteira, utilizada para apoio à formação nas suas diferentes vertentes e ocupa uma parte significativa do edifício onde funcionou a Escola Dr. Santana Maia e anterirmente o Colégio Infante de Sagres.A Herdade possui, além de outras estruturas, uma pousada rural, um picadeiro coberto e dois campos de obstáculos para equitação, uma unidade experimental de produção de cogumelos, instalações para animais: bovinos de leite - com sala de ordenha - ovinos, caprinos e equinos e 5 sectores de aproveitamento cultural agro-florestal que se passam a referir: Sector 1 – Horticultura e Floricultura - inclui uma estufa com 1000 m2; Sector 2 – Fruticultura e Viticultura - inclui um olival super-intensivo e intensivo; Sector 3 – Pecuário; Sector 4 – Agromecanização, com as vertentes de Máquinas Agrícolas e Culturas Arvenses; Sector 5 – Espaços Verdes com as vertentes de Jardins e Manchas Florestais.A EPDRA está fundamentalmente vocacionada para a formação inicial de jovens, ministrando cursos de nível III, com equivalência ao 12º ano de escolaridade. A oferta formativa actualmente compreende os seguintes cursos: Técnico de Gestão Equina, Técnico de Produção Agrária, Técnico de Recursos Florestais e Ambientais, Técnico de Turismo Ambiental e Rural e Técnico de Jardinagem e Espaços Verdes. Prevê-se, no próximo ano lectivo, alargar esta oferta a outros cursos, nomeadamente na área dos desportos-aventura, respondendo desta forma às tendências manifestadas pelo seu público-alvo. A condição de acesso para todos os cursos é o 9º ano de escolaridade. No ano lectivo 2005/2006 frequentam a EPDRA aproximadamente 140 alunos oriundos de todo o país - com especial ênfase nas regiões do Ribatejo e Alentejo Norte - e também dos PALOP, sobretudo de S. Tomé e Príncipe. O corpo docente é constituído por 30 professores e do corpo não docente fazem parte 31 elementos.Este artigo foi escrito pelo Eng. Simão Pita, professor da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes

Conselheiro Manuel Lopes Maia Gonçalves

08.01.06 | João Manuel Maia Alves
mg.jpgO Conselheiro Manuel Lopes Maia Gonçalves nasceu em Mouriscas, no Casal das Aldeias, em 14 de Novembro de 1921. Foram seus pais Jacinto Gonçalves e Ermelinda Lopes Maia. É descendente em quinto grau de António Ferreira Sant’ Anna, nascido em 1789 em Alagoa, concelho de Portalegre e já referido em vários artigos deste blogue.Depois da instrução primária, em Mouriscas, frequentou o curso geral dos liceus, em Elvas e em Coimbra, em cuja Faculdade de Direito se licenciou, em 1946, ingressando seguidamente na magistratura do Ministério Público, tendo exercido os cargos de delegado do Procurador da República em Tavira, Elvas, Tomar e Santarém.Em 1954, no concurso para juiz de direito, obteve o primeiro lugar, com a classificação de Muito Bom, que manteve em todas as graduações e classificações seguintes, para promoção à 2ª e à 1ª classe e para juiz desembargador.Após o ingresso na magistratura judicial exerceu os cargos de juiz de direito em Nisa, ajudante do Procurador da República no 4º juízo criminal de Lisboa, ajudante do Procurador-Geral da República na secção criminal do Supremo Tribunal de Justiça, juiz do Tribunal de Execução das Penas de Lisboa, desembargador nas Relações de Évora e de Lisboa, relator no Supremo Tribunal Militar e juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, onde foi presidente da Secção Criminal.Foi membro do Conselho Superior do Ministério Público, da Comissão de Revisão do Código Penal, da Comissão que elaborou o Projecto de Proposta do Código de Processo Penal e da Comissão que preparou a revisão deste último diploma.É autor de numerosos estudos e pareceres publicados em sucessivos números do Boletim do Ministério da Justiça, desde Julho de 1960 até Janeiro de 1975, e de estudos publicados no Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra e na Revista Portuguesa de Ciência Criminal.É autor de um Código Penal Português e de um Código de Processo Penal Português, ambas as obras anotadas e comentadas, respectivamente com 17 e 15 edições, em 2005.Foi condecorado com a medalha militar de ouro de serviços distintos e foi-lhe dedicada medalha de bronze pelo cargo exercido no Supremo Tribunal Militar. O Conselheiro Manuel Lopes Maia Gonçalves manteve sempre uma forte ligação a Mouriscas, onde tem passado férias e longas temporadas. Foi um dos fundadores do Grupo Desportivo e Recreativo “Os Esparteiros”, de que é o sócio número 4.No sentido de divulgar a sua terra natal promoveu em Mouriscas uma reunião do seu curso, tendo comparecido figuras de destaque, designadamente o Prof. Antunes Varela, antigo Ministro da Justiça, e o Embaixador Hall Temido. O Grupo Etnográfico “Os Esparteiros” actuou para os participantes desta reunião. Promoveu também uma excursão a Mouriscas de conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça, à qual não faltou o presidente deste alto tribunal, Conselheiro Aragão Seia.