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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Transportes por volta de 1950

30.06.05 | João Manuel Maia Alves
Este artigo fala também duma sensacional inovação na área dos transportes que ocorreu por volta de 1950. Que inovação? Leiam para saber e também para terem uma ideia dos meios de transporte usados em Mouriscas em meados do século passado.

De que meios de transporte dispunham as pessoas de Mouriscas para se deslocar dentro da freguesia por volta de 1950?

O meio de transporte mais utilizado era o fornecido pela natureza – as pernas, que muitos usavam quase todos os dias para percorrer longas distâncias. Pense-se, por exemplo, nos estudantes do Colégio Infante de Sagres que moravam perto do Tejo.

Muitas pessoas deslocavam-se montando um animal – mula ou burro, em geral – fosse em trabalho, fosse para passeio. Muitas vezes o animal que de semana servia para transportar carga ou lavrar era usado ao domingo para passeio.

Cabe aqui recordar que durante muitos anos o Dr. João Santana Maia visitava os doentes montado numa égua. Não tendo ainda adquirido automóvel, o que aconteceu já depois de 1945, montado na égua conseguia chegar num dia a todos os lugares de Mouriscas, que é um exemplo bem típico de povoamento disperso com os seus numerosos casais espalhados por uma grande extensão.

Houve alturas em que o Padre Francisco José Pires, que deixou Mouriscas em 1951, estava mal das pernas e fazia os funerais montado numa burra. Penso que também usava o mesmo meio de transporte para visitar doentes.

Outros meios de transporte eram os carros, as carroças e as charretes, de tracção animal. Os carros e as carroças eram usados para transporte de carga; podiam também levar pessoas. Para ir a um casamento longe de casa, podia-se usar um carro ou uma carroça, com as devidas adaptações, para transportar um família.

As charretes eram veículos de transporte de pessoas que indicavam posses e distinção.

Muita gente tinha bicicletas. Prestavam bom serviço. A sua principal desvantagem provinha de em Mouriscas haver muitas subidas e descidas e, por isso, exigirem um grande esforço. Muito mais gente podia ter usado este meio de transporte, mas ele metia um certo medo a muitos, que nem sequer aprendiam a utilizá-lo.

Na região de Aveiro é vulgar as mulheres deslocarem-se em bicicletas. Em Mouriscas houve uma ciclista por volta de 1950. Era casada com Manuel Alves, conhecido por Manuel Cesário, das Sentieiras, um homem dedicado à cura pelas plantas.

Por volta de 1950, havia poucas motos em Mouriscas. Uma pertenceu a João Gonçalves Pedro. Ricardo Santana, dos Engarnais Cimeiros também possuiu uma. O Dr. João Santana Maia tinha tido uma. As motos – penso que era mais habitual dizer-se motas – eram grandes, caras e metiam um certo medo. Penso que à maioria não passaria pela cabeça ter um tal veículo.

Automóveis havia poucos. Por volta de 1950 tiveram automóveis em Mouriscas o Dr. João Santana Maia, Manuel Cadete, Casimiro Rego, José Marques Esparteiro, Miguel Marques Esparteiro, Jesuvino Ferro e António Baptista, o homem do táxi. Não recordo outros.

O primeiro táxi em Mouriscas apareceu por volta de 1950, mas disso falaremos noutro artigo.

Este era o panorama dos transportes de pessoas em Mouriscas.

Antes de 1950 tinha adquirido um novo residente – Hélder Navarro, o homem da farmácia, que, aliás, se chamava “Farmácia Navarro”. Ele percorria a freguesia para dar injecções. Os meios de transporte referidos eram insuficientes para o seu trabalho. Então alguém teve a ideia duma invenção que seria muito útil para o Sr. Navarro, lembrando-se de adaptar motores às humildes bicicletas.

Adaptar um motor a uma bicicleta tinha os seus problemas. Era preciso colocar na estrutura do veículo o motor, a transmissão de movimento às rodas e um depósito de combustível. O aspecto podia parecer um pouco estranho, mas o resultado era excelente.

Esta invenção foi muito útil para várias pessoas em Mouriscas. Beneficiaram bastante com ela o citado Hélder Navarro e Augusto Serras, ferrador, que também era uma espécie de veterinário e se deslocava muito dentro de Mouriscas. No entanto, muitos donos de bicicletas não aderiram a esta inovação.

Vieram por essa altura e vulgarizaram-se outros veículos motorizados de duas rodas, uns sem pedais e de rodas pequenas, como as vespas e lambretas, outros mais parecidos com bicicletas. Não há dúvida, no entanto, que a adaptação de motores às bicicletas foi em Mouriscas, e certamente nas outras localidades, uma grande e surpreendente invenção que a muitos ajudou. Dos mais velhos muitos mal se recordarão desta inovação. Os mais novos nem sabem que existiu. Foi por isso que este artigo foi escrito.


Este artigo foi escrito por João Manuel Maia Alves

Mouriscas comandadas pelos Chicos

22.06.05 | João Manuel Maia Alves
1965

Chico Domingos dos transportes
Chico Mau, o correspondente
Chico Margarido, o substituto
Chico Grossinho, o presidente

Chico Raposo, o estafeta
Chico Cadete, o avaliador
Chico Bento, o farmacêutico
Chico Rei, o futuro regedor

Chico Alves, o da água
Chico Sacristão, o coveiro
Chico Alpalhão, o da luz
Chico Voluzo, o cangalheiro

E para a coisa ser a sério
Na terra em que tudo medra
Estão de guarda ao cemitério
Chico Lúcio e Chico Pedra.

E agora para terminar
Chico Roldão o campeão.


O Administrador deste blogue leu estes versos no Café Dalila, nos Cascalhos, em Mouriscas. Não foi possível apurar quem os escreveu, mas parece terem sido muito conhecidos e falados noutros tempos.

Relatos de futebol

14.06.05 | João Manuel Maia Alves

Já perto do ano de 1960, chegou-nos o rádio de transístores, a pilhas ou a corrente, uma invenção que haveria de revolucionar o nosso viver. Por essa altura chegou também a Mouriscas o fornecimento de luz elétrica e a televisão, ambas igualmente de grandes consequências.

Até aí os rádios que havia em Mouriscas eram uns grandes caixotes que funcionavam a baterias, que se tinham de carregar no Tiago Faria, ou Farias, como era mais conhecido. Os rádios eram caros. Não admira que, antes da chegada dos rádios de transístores, pequenos, baratos e podendo funcionar a pilhas, houvesse pouca gente em Mouriscas que tivesse telefonia, um termo hoje quase esquecido. Bom número dos rádios que havia estavam em sítios públicos, como cafés ou tabernas.

Nos anos 40 e 50 do século XX havia em Mouriscas muito miúdo e graúdo que gostava de futebol e que ao domingo ansiava pela hora, quase sagrada, em que os rádios davam início aos relatos de futebol. A grande maioria só o podia fazer nalguns dos estabelecimentos que dispunham da “bendita” telefonia.

Era quase em estado de êxtase que muitos adultos e adolescentes ouviam no rádio, pouco antes das três ou das quatro da tarde, consoante a época do ano, palavras que poderiam ser mais ou menos as do parágrafo seguinte.

Estúdios em Lisboa da Emissora Nacional a transmitir com Lisboa 1, Porto 1, Coimbra, Faro, Guarda e ondas curtas em quarenta e sete metros. Vamos transmitir do Estádio da Tapadinha, em Lisboa, o relato integral e direto do desafio de futebol entre o Atlético Clube de Portugal e o Futebol Clube do Porto, a contar para a décima jornada da segunda volta da primeira divisão do campeonato de futebol da presente época de 1952-53. Atenção Estádio da Tapadinha, atenção Artur Agostinho. Nesta fotografia vê-se Artur Agostinho fazendo um relato. Foi dos mais populares relatores de futebol; aliás foi popular e competente em muitos papéis diferentes.

 

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Seguiam-se quarenta e cinco minutos em que se bebiam as palavras do repórter narrando as peripécias do jogo, por vezes com expressões exageradas como “atirou a bola para as nuvens”. Não havia informações de outros jogos, nem comentadores complementando o trabalho do relator. De modo mais ou menos contido, os ouvintes seguiam interessadamente a descrição do jogo. Seguia-se um intervalo com música popular portuguesa. Era o tempo de Max, de Júlia Barroso e tantas outras magníficas e hoje quase esquecidas vozes. Depois lá vinha a segunda parte, com mais sofrimento para uns e alegria para outros.

Recordemos os donos de alguns dos estabelecimentos onde em tempos passados se podiam ouvir em Mouriscas os relatos de futebol: Miguel “da Joana” nas Ferrarias, Afonso Filipe no Carril, Jorge Baptista de Matos (Jorge do Café) na Estalagem, Fernando Sebastião (Ceifão) na Estalagem, António Pires Silvestre (“Tonho Século”) nos Engarnais Cimeiros, Manuel Sebastião (Ceifão) nos Engarnais Cimeiros, que foi para Angola e vendeu o estabelecimento a João Bolas, e Ramiro Esparteiro, a filha, Carina Esparteiro, e o genro, Alexandre Dinis, na Bagaceira.

 

Nesta foto vê-se Carina Esparteiro e Alexandre Dinis. Na sua loja muito miúdo e graúdo comparecia ao domingo para o ritual de seguir pela rádio as peripécias de jogos de futebol.

 

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Estabelecimentos com telefonia eram antigamente chão quase sagrado onde se podia mergulhar na magia dos relatos de futebol. Merecem ser recordados -– eles e os seus donos. Também merecem um grande agradecimento pelos momentos mágicos que proporcionaram!

Artigo escrito por João Manuel Maia Alves

Antigamente ao domingo

09.06.05 | João Manuel Maia Alves
Em Mouriscas há vários sítios onde as pessoas se juntam ao domingo. Décadas atrás juntavam-se em maior número nesses locais. Alguns desses sítios são a Estalagem, o Carril, o Cotovelo, as Ferrarias, os Engarnais Cimeiros, a Bagaceira e os Cascalhos. A Estalagem, no centro da freguesia, atraía gente de todos os lugares, ao passo que aos outros sítios afluía principalmente gente de lugares próximos.

Depois do almoço homens começavam a afluir aos seus lugares preferidos. Vestindo, em geral, camisa branca, gravata preta, casaco e calças de cor escura, tudo com a qualidade e a elegância condizentes com o gosto e o pouco dinheiro da época, era vê-los caminhar para os locais onde podiam tratar dos problemas da sua vida ou simplesmente conversar e espairecer um pouco no intervalo entre duas semanas de duro labor físico. Um luto recente exigia camisa preta. Na cabeça usava-se um chapéu ou um boné.

Houve um tempo em que os homens transportavam ao domingo um objecto quase obrigatório – uma bengala. Tratava-se umas vezes dum tosco cajado, noutros duma vara de junco com uma ponta virada que se podia enfiar no braço.

Perto destes locais de encontro havia tabernas onde se podia tomar bebidas alcoólicas como vinho e aguardente e bebidas gasosas. Quem se lembra ainda da agradável bebida gasosa chamada pirolito? Para quem não saiba, no pirolito em vez de tampa externa havia uma bola de vidro mantida internamente sob pressão contra o buraco da garrafa. Para se abrir o pirolito empurrava-se a bola para baixo Para acompanhar as bebidas havia tremoços e amendoins, em Mouriscas chamados ervilhanas.

Por volta de 1950 surgiram os primeiros cafés, que começaram a atrair fregueses e a mudar os hábitos das pessoas, mas houve quem nunca trocasse o café pelo vinho.

Nos anos 50 havia dois campos de futebol em Mouriscas – um na Várzea, na parte norte, e outro na Lameira Redonda, na parte sul. Os jogos disputados nestes campos eram vistos por muita gente. Muita dela não perdia nem o futebol nem as reuniões nos sítios do costume.

Alguns homens recolhiam cedo a casa. Outros deixavam-se ficar até tarde, entregues à conversa e à bebida, chegando a casa por volta da meia-noite, ou mais tarde ainda, por vezes bastante “alegres”.

Na Estalagem, isto é no centro da freguesia, onde se cruzam a estrada de Abrantes e a do Sardoal, havia um costume engraçado. Muitos homens conversavam na rua em grupos. Às vezes via-se num deles um rapaz já admitido, pela idade ou pelo desempenho profissional, ao convívio e às conversas dos homens. O estranho é que muitos homens tinham o hábito de ficar no meio da estrada. Vinha um automóvel e afastavam-se. O automóvel passava e eles voltavam ao meio da estrada. Não era um hábito muito recomendável, mas não consta que tenha causado acidentes. Por certo muita gente se lembrará ainda deste curioso costume de outras épocas e gostará de o lembrar. Outros gostarão de saber.



Artigo escrito por João Manuel Maia Alves

Antroponímia mourisquense (3)

03.06.05 | João Manuel Maia Alves
Neste artigo o autor, Carlos Lopes Bento, continua a examinar a antroponímia mourisquense entre 1860 e 1910.

DOS SOBRENOMES

Segundo José Leite de Vasconcelos os sobrenomes, ou segundos nomes, reproduzem nomes próprios ou elementos de nomes de outras pessoas de família ou de pessoas com ela relacionadas: avós, parentes, padrinhos, amigos ou protectores, expressões religiosas ou outras. Juntam-se imediatamente ao nome individual ou nome próprio.

O nome e o sobrenome formam de certo modo um nome duplo ou composto(nome próprio).

Os sobrenomes podem ser simples ou ser compostos. O mais usual é ser simples: Maria de Jesus.

O formarem ou não nome composto depende do modo da redacção do assento do baptismo ou do registo civil e também do sentimento de quem o usa ou o pôs.

São exemplos de nomes com sobrenomes: Deolindo José de Jesus, Francisco da Costa, João Gualberto, Francisco do Rego, Francisco de São João, ... . Especialmente, no registo de crianças do sexo feminino , o nome vem, a cada passo, acompanhado de sobrenome: Antónia dos Anjos, Elisa da Assunção, Maria de Jesus, Maria do Carmo, Maria Preciosa dos Anjos, Teresa do Espírito Santo, ... .

Quando um nome completo se compõe somente de nome e sobrenome, sem apelido algum, mal pode o sobrenome deixar de se considerar independente. O sobrenome é, às vezes, posto logo no acto do baptismo: p.e. Maria Adelaide.

Quanto aos sobrenomes, eles podem corresponder e ser iguais a nomes de pessoas, sendo muitos deles provenientes da religião cristã: Anacleto, Anjos, Angélica, Anunciação, Ascensão, Carmo, Chagas, Conceição, Cruz, Dores, Encarnação, Espírito Santo, Estrela, Nascimento, Mercês, Nazaré, Natividade, Paz, Piedade, Prazeres, Quaresma, Reis, Rosário, Santos, Trindade, Ventura.

O sobrenome, apesar de seu caracter individual pode tornar-se hereditário e, gradualmente, apelido.

NOMES com SOBRENOMES, segundo o sexo dados no acto do baptismo

Sexo Masculino

Afonso Henriques 2; António Maria 2; Francico Lourenço 1; João Adriano 1; João Augusto 1; João Avelino 1; João Baptista 1; João do Rosário 1; João Gualberto 1; José Maria 7; Luiz Apolinário 1; Manoel de Jesus 1; Manoel Domingues 1; Manoel dos Santos 1.

Sexo Feminino

Antónia Maria 1; Joaquina Matilde 1; Júlia do Rosário 1; Justina Maria 1;
Luiza de Jesus 1; Luiza Rosa 1; Maria da Conceição 2; Maria Antónia 1; Maria Augusta 1; Maria da Acção 1; Maria da Conceição 1; Maria de Jesus 4; Maria do Céu 1;
Maria do Rosário 11; Maria Elisa 1; Maria Emília 1; Maria Joaquina 1; Maria José 11;
Maria Luiza 1; Maria Nazareh 1; Maria Rodrigues 1; Maria Rosa 1; Maria Tereza 1;
Teresa da Assunção 1.


Autor deste artigo: Carlos Lopes Bento