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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Estalagens e arredores

10.08.05 | João Manuel Maia Alves

Os versos que se seguem, de crítica a comerciantes e estabelecimentos da Estalagem, centro de Mouriscas, e imediações são da autoria de Fernando Rosa de Matos, das Aldeias. Foram lidos pelo conhecido cantor Jorge Palma numa récita realizada por volta de 1968. Tanto Fernando Rosa de Matos como Jorge Palma frequentavam então o extinto Colégio Infante de Sagres, onde a récita se realizou.

Prestem todos atenção:
Vou tentar dar-vos imagens
Ou fazer a descrição
Do que são as Estalagens.

Temos o tinto do Grilo
Que faz cantar os casmurros.
O talho? Deixou aquilo…
Foi um descanso prós burros…

E há cântaros baratos,
Pão, tabaco ou creolina,
Corta-unhas, lixo, ratos
Na prima Capitulina.

Sabão, farelos, colares,
Pés de cera pra promessas,
Mitras, xuxas, alguidares,
Pentes, farinha, compressas…

Rebuçados já bem raros,
De sabor bastante mau,
Missais, torcidas, aparos
Para canetas de pau.

Brilhantina que já deu
Em pegajosa mistela,
Tudo peças de museu…
A melhor das quais é ela.

E depois mesmo no canto
Está o Calhau… bom vizinho
Aquilo até causa espanto…
Não gosta nada de vinho…

E às meninas que interessadas
Em fazer boa figura
Queiram ir ao cabeleireiro
E também à manicura…

Indicamos-lhe o caminho
Para não haver engano:
È o senhor Augusto Serras
Por trás do metropolitano.

E quem procure ou quem queira
Alguma albarda ou alforge
Vá ao Senhor José Jorge
Que trabalha na Carreira.

Tem “atafais e intolhas”
Como em Mouriscas se diz,
Gravatas, coiros e rolhas,
Cilhas, safões e burnis.

E quem tiver simpatias
Ou gosto por boa prosa
Dê um salto às Ferrarias
Ao Senhor Sebastião Rosa.

Sem ter andado no estudo
É um homem com valor
Ensina o Senhor Doutor
E sabe e vende de tudo:

Fivelas, botas e cestos,
Terços, enxergas, doces, cabrestos…
Cita Bandarra e Ulisses…
Castra porcos com mestria,
Explica filosofia
E outras esquisitices.

Tem numa lista só sua
Chás pra qualquer dor ou mágoa,
Discute as fases da lua,
É leitor do Borda d’água.

É duma eloquência rara
Quando está com um copo a mais,
Tira nascentes com a vara,
Conhece o João de Calais.

Retomando agora a estrada
De regresso às Estalagens
Temos a Lux à entrada
Que vende com mil vantagens.

Bolinhas de naftalina,
Coisas que irradiam luz,
Cuequinhas de menina
E estampas do Padre Cruz.

E uns metros mais pra cá
Vemos no Pereira este adorno:
Queres fiado? Está bem está…
Tu levas mas é um corno!

Vende vinho de primeira
E valha-lhe essa virtude…
É assim o Senhor Pereira!...
Só pra ele é um almude.

E entremos na barbearia
Do mestre Senhor Joaquim.
É um ás na poesia
E até sabe latim.

Homem culto, ninguém negue!
Com monárquicos anseios…
Ninguém como ele consegue
Tantos gestos e meneios.

E o S’or Cadete não esquece.
Mas que conversa que ele tem…
Quem lá entra e não o conhece
Sai de lá sem um vintém.

Deste lado da calçada
Há café e televisão.
E ali não falta nada…
Pelo menos moscas no Verão…

Alguém de joelhos suplica:
Oh Quim vê lá se te avias:
Prá semana traz-me a bica
E o jornal de há oito dias…

Se quiser sal e também
Cairo e ceiras pra lagar
O Senhor João Pedro tem
De tudo que desejar:

Morcela, chouriço e paio
Mas tudo feito na linha…
Só não sei onde é que raio
Se encontra um cão que ele tinha…

E o Senhor António Duarte
No negócio é uma fera:
Vende peripécias com arte
Aonde a verdade impera.

Se não tem a loja aberta
Ele explica num instante:
É indústria e não comércio
Pois é ele o fabricante…

Continuando a caminhar
Nessa mesma direcção
Temos a montra invulgar
Do Senhor Manuel Simão.

Vende boinas e leituras
Pela conversão da Rússia,
Ceroulas, santas figuras
De Paulo VI e da Lúcia,

Calças da tropa e rodilhas
Tudo coberto de achaques…
Alpercatas sem presilhas,
Perfumes e almanaques…

Há quem diga, oh que injustiça,
Como é maldizente o povo”
Que ele leva a roupa à missa
E a põe na montra de novo…

Dizem que é homem prudente
Mas eu por mim não acho:
Pois não escapa certamente
Se cai das calças abaixo…

Vou terminar por aqui:
Não quis ofender ninguém.
E quem eu não referi
Que me desculpe também.

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