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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Casamentos à moda antiga

06.05.16 | João Manuel Maia Alves

(Artigo publicado inicialmente em 17 de abril de 2009)

Noutros tempos os casamentos em Mouriscas realizavam-se segundo um interessante ritual que se perdeu. Muitos não o conheceram. Outros recordam-no já como algo longínquo. A pensar nuns e noutros foi escrito este artigo.

Antes do mais, o que é que se pode dizer, em termos gerais, dos casamentos à moda antiga? Nos antigos casamentos havia duas festas, uma em casa dos pais do noivo, outra em casa dos pais da noiva. Cada uma dessas festas estendia-se por dois dias, com um total de dois almoços e dois jantares. A noiva tinha duas madrinhas e o noivo dois padrinhos. Na véspera do casamento os pais da noiva enviavam às madrinhas da filha tabuleiros com coisas boas para o paladar; as madrinhas retribuíam com prendas para os noivos, transportadas nos mesmos tabuleiros. Por sua vez, os pais do noivo mandavam acepipes aos padrinhos do filho, em tabuleiros que voltavam com prendas para os noivos. A amigos que não se tinha convidado mandava-se um bolo. Para a cerimónia religiosa os convidados dos pais do noivo dirigiam-se à casa dos da noiva. Depois formava-se um cortejo com todos os convidados, o qual se dirigia à igreja. Uns dias depois do casamento realizava-se um jantar para a família mais chegada. Chamava-se noivado. Tempos depois era o dia do “pagamento do bolo”. Uma pessoa que tinha recebido um bolo visitava os noivos na sua casa, desejava-lhes todas as felicidades deste mundo, via os aposentos e deixava uma prenda.

Gostariam certamente de saber ou recordar com mais pormenores como eram os casamentos à moda antiga, bem diferentes dos de agora. Então, vamos desenvolver o assunto um pouco; talvez encontremos coisas interessantes. Infelizmente, por ignorância ou falhas de memória ou simplesmente por falta de talento narrativo do autor, alguns aspetos interessantes não serão mencionados ou não receberão a atenção devida. Vamos imaginar como poderia ser um casamento em Mouriscas há umas décadas.

Hoje é um calmoso dia de agosto. Em casa dos pais dos noivos vai uma grande azáfama, ou estrefuga para usar um termo mourisquense, por causa do casamento, que se realizará amanhã. As casas foram caiadas. Os pátios estão cobertos de junça. Já se fizeram muitos bolos, grandes e pequenos, muito arroz-doce e outras coisas agradáveis ao paladar.

Alguns animais foram sacrificados para celebrar o feliz acontecimento. Quando se lhe casa um filho, qualquer família, pobre ou rica, quer realizar um casamento que não a deixe envergonhada perante a comunidade. Não pode faltar boa comida para um bom número de convidados.

A noiva será acompanhada à igreja por duas madrinhas. Uma é a do batismo. A outra foi convidada para ser madrinha do casamento. Pode acontecer que esta e a madrinha se tratem por tu. Nesse caso, a madrinha continuará a tratar a noiva por tu. Quanto à noiva, deixará de tratar a madrinha por tu. O marido desta madrinha passará a ser tratado por padrinho pelos noivos.

Também o noivo terá no casamento dois padrinhos – o do batismo e um outro convidado para o efeito. A mulher deste será tratada por madrinha pelos noivos. O noivo deixará de tratar por tu o novo padrinho se o fazia antes.

Ao fim da tarde desta véspera do casamento, saem da casa dos pais dos noivos umas mulheres com uns longos tabuleiros, chamados fretes, à cabeça. Dirigem-se às casas dos padrinhos e madrinhas. Cobertos de panos brancos, os tabuleiros levam bolos e outros doces, peças de carne e outras coisas agradáveis ao paladar. Os tabuleiros são a seguir transportados para a casa dos noivos com prendas dos padrinhos.

Muita gente foi convidada – parentes chegados dos pais e pessoas muito amigas. Há amigos que não foram convidados, devido a limitação do número de pessoas a convidar ou porque é menor o grau de proximidade. A esses foi enviado um bolo.

O casamento realiza-se amanhã às quatro. É o que foi combinado com o pároco, que pediu pontualidade.

No próximo artigo veremos como vai decorrer este casório

Autor do artigo: João Manuel Maia Alves