Notícia de 1901
O jornal Echo do Tejo, que se publicou em Alvega, deu na sua edição de 10/2/1901 uma notícia em que se fala de José Ferreira Santana, um mourisquense ilustre dos séculos XIX e XX. No artigo é apelidado de "o mais illustre de todos os nossos patricios". Como se trata de pessoa que merece ser conhecida dos mourisquenses de hoje, reproduz-se aqui esse artigo, com a manutenção da ortografia, que quase não usava acentos.
As fotografias foram acrescentadas, bem como algumas notas sobre José Ferreira Santana e outras consideradas necessárias à boa compreensão do artigo.
Mouriscas
A commissão executiva constituida para levar a efeito a construcção d'uma egreja n'esta freguezia é composta dos seguintes cavalheiros: Dr. José Ferreira Sant’ Anna (1), presidente; José Maria Lourenço, vice-presidente; P.e Henrique d' 0liveira Neves (2), secretario; Victorino Augusto, thesoureiro e vários vogaes.
O nosso illustre patrício dr. Sant’Anna volta brevemente a esta freguezia, hospedando-se, ao que se nos consta, em casa do seu sobrinho e afilhado Angelo Lourenço de Sant’Anna. Alguma cousa se tem dito contra o nosso benemerito patricio, affirmando-se que sua Ex.ª quer fazer politica com as suas offertas. Não sabemos se é verdadeiro tal boato, mas se o for, abençoada politica, que fructifica tão generosamente a favor do engrandecimento d'esta freguezia tão despresada pelos poderes publicos. O melhoramento mais importante feito em nossa vida nas Mouriscas foi a casa da residencia parochial, devida aos esforços e zelo do Sr. Commendador Symphoriano Pólo, onde se gastaram 430$000 réis, quantia muito inferior á offerecida de uma só vez pelo nosso patricio.
Convencidos estamos de que sua Ex.ª possuidor d'uma avultada fortuna e d'uma posição independente, pouco se importará com a política; mas se o seu fim for político, posso asseverar que n'esta freguezia alguma coisa fará, não só pela sua generosidade, mas porque a sua parentella é numerosa. e porque é o mais illustre de todos os nossos patrícios. O que com segurança podemos desmentir é que:sua ex.ª se mostre hostil ao antigo deputado por este circulo e actual par do reino o sr. Avellar Machado (3), e até em varias conversações que teve comnosco, mostrou sempre grande sympathia por tão prestante cavalheiro. Lastimamos que houvesse quem empregasse o seu tempo trabalhando para levantar discórdias, o que certamente não conseguiu, porque o Sr. Sant’Anna continua merecendo a amisade do Sr. Avellar Machado e as sympathias dos nossos patricios.
NOTAS
(1) José Ferreira Santana
José Ferreira Santana (1845-1825), nasceu na Quinta de S. António, no Tojal, Mouriscas, sendo filho de António Ferreira Santana (1789-1875), de Alagoa, Portalegre, e de Luísa Lopes (aprox. 1801 – 1870), da Cabeça de Alconde, hoje pertencente à freguesia de Alferrarede. António Ferreira Santana foi almocreve e deu origem à família Santana, hoje dispersa por toda a freguesia de Mouriscas e muitas outras localidades. Deve-se-lhe a construção em Mouriscas do memorial do Senhor dos Aflitos.
José Ferreira Santana foi médico, comendador e homem muito culto, elegante e viajado. Casou com uma senhora de Carnide muito abastada, vivendo num palácio dessa localidade, situado na Rua da Fonte, que foi conhecido por Palácio do Dr. Santana. Muito amigo da família, em sua casa se alojaram, enquanto estudantes, vários sobrinhos, a quem proporcionou proteção e formação que lhes permitiu ocuparem lugares de relevo. Depois de enviuvar, viveu em Alvega, onde foi pároco o irmão Padre Severino Ferreira Santana e para onde também casaram duas sobrinhas criadas pelo Padre Severino. Em Alvega construiu um palacete acastelado, com uma Santa Ana na esquina, junto à igreja matriz.
O Padre Severino Ferreira Santana, irmão de José Ferreira Santana, também foi um homem notável e figura importante do passado mourisquense. Foi-lhe dedicado um artigo em http://motg.no.sapo.pt/p14.htm.
(2) P.e Henrique d' 0liveira Neves
O P.e Henrique d' 0liveira Neves ficou célebre na história de Mouriscas. Implantada a república, em 1911, aceitou uma pensão do estado, contra a vontade da sua hierarquia, que o excomungou. A sua recusa em abandonar a igreja matriz, onde continuou a exercer as suas funções, levou a um longo conflito político-religioso, sobre o qual se pode ler um artigo em http://motg.blogs.sapo.pt/26306.html.
(3) Avelar Machado
José Alves Pimenta de Avelar Machado (1848-1909), nascido no Rossio ao Sul do Tejo, destacou-se pela sua intervenção política. General de Engenharia, representou Abrantes como deputado do Partido Regenerador durante quase vinte anos. Foi também par do reino. Os pares do reino formavam uma segunda câmara legislativa, sendo nomeados ou eleitos indiretamente.
Graças a Avelar Machado, Abrantes obteve o abastecimento de água potável, através de uma central considerada das mais potentes até então. A construção da maior parte dos edifícios escolares do concelho, de estradas reais e municipais e a criação de estações telégrafo-postais fazem parte da vasta iniciativa de Avelar Machado. Em sua homenagem foi erigido um monumento na Praça Barão da Batalha, em Abrantes.