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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Falar mourisquense (16)

24.12.07 | João Manuel Maia Alves
NOIVA DE ARRAIOLOS – Pessoa que demora muito tempo a arranjar-se. (Mas quando é que estás pronta? Já estamos atrasados. Pareces mesmo a noiva de Arraiolos.)

MAIS VELHO QUE A SERRA DE OSSA – Muito velho. (Essa história é mais velha que a Serra de Ossa.)

ENTRUNFAR – Amuar, ficar aborrecido. (Ele ficou entrunfado quando o pai não o deixou ir jogar a bola no domingo passado.)

CASITA – Anexo da casa que em muitas famílias servia para preparar as refeições ou mesmo tomá-las, sendo a cozinha pouco usada no dia-a-dia e reservada para ocasiões especiais. Às vezes a casita tinha um forno.

MARRADA – Espaço que fica por lavrar junto das árvores quando o terreno é lavrado com animais ou mesmo com tractor. Após a lavoura as marradas tinham de ser cavadas. (O pai não gostou das notas dele no colégio e pô-lo a cavar marradas.)

CANDONGUEIRA – Mulher que comprava produtos alimentares como ovos e chouriços, deslocando-se a casa das pessoas, e os vendia em Lisboa, para onde os transportava em frequentes viagens de comboio. Em Lisboa comprava e vendia nas suas visitas em Mouriscas produtos como café e sementes.

CANDONGA – Actividade de candongueira. (As mulheres que andavam na candonga eram muito úteis às donas de casa em Mouriscas, pois lhes escoavam a produção de ovos sem terem de sair de casa, o que era muito importante numa terra tão dispersa.)

ARGANEL – Gancho metálico espetado no focinho dum porco para o impedir de fossar.

ARGANAÇA – Comilão. (Ele é um arganaça. Se pudesse, comia tudo e não deixava nada para os outros.)

CAMBULHO – Malandro, patife. (Ele é um cambulho qualquer. Tem enganado muita gente nos negócios.)

FRETES – Nome dado a tabuleiros alongados com uma importante função nos casamentos de outros tempos. Transportados à cabeça por mulheres ou raparigas, eram enviados pelos pais dos noivos aos padrinhos com coisas agradáveis ao paladar como bolos e peças de carne. Na viagem seguinte transportavam as prendas dos padrinhos – géneros alimentícios, louças, etc.

Este artigo teve a colaboração, que se agradece, de Alberto Grossinho.

Uma floresta para o futuro

12.12.07 | João Manuel Maia Alves
Realizou-se no passado dia 1 de Dezembro na Herdade da Murteira, Escola Profissional de Desenvolvimento Rural, em Mouriscas, um colóquio subordinado ao tema “Uma floresta para o futuro”.
A organização foi da Junta de Freguesia em parceria com a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural, com a Associação Caça e Pesca de Mouriscas, com a Empresa Silviconsultores e ainda com a ADIMO, Associação de Desenvolvimento Integrado de Mouriscas.
Esta acção surge na sequência do grande incêndio do Verão passado que consumiu uma extensa área de pinhal e terras de cultivo do Norte ao Sul da freguesia. Foi preocupação da organização informar os produtores florestais prejudicados por este incêndio dos meios que estão disponíveis para poderem, se para isso houver interesse, investir na recuperação da floresta ardida.
Assim, o colóquio estava dividido em três painéis: 1º - Zonas de intervenção Florestal; 2º - Desenvolvimento Rural e 3º - Protecção e Valorização dos Recursos da Floresta. Cada um destes painéis foi subdividido em intervenções de técnicos florestais e produtores florestais convidados.
No 1º Painel, moderado pelo Engº Simão Pita, tivemos as intervenções do Engº Jorge Gonçalves, do Núcleo Florestal do Ribatejo, que falou das ZIF’s e do Ordenamento Florestal; o Engº Carlos Machado, da Silviconsultores, falou sobre a ZIF de Mouriscas e o Prof. Mário Albuquerque, proprietário florestal em Mouriscas, que falou sobre o Património Florestal – uma Responsabilidade Colectiva. No final das intervenções deste painel surgiram várias perguntas das pessoas presentes (mais de quatro dezenas) que levaram a que o 2º Painel, previsto para a parte da manhã, fosse transferido para a tarde. Deste modo houve tempo para responder a todas as questões postas.
O 2º Painel, moderado pelo Dr. Humberto Lopes, teve a intervenção do Engº Luís Damas, da Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação, que falou sobre os Apoios aos Investimentos na Floresta. No final desta intervenção ficou esclarecida a necessidade de, para haver financiamentos, existir uma associação de produtores florestais cuja área de intervenção abranja um mínimo de 25 ha para que possa haver financiamento. No 1º Painel tínhamos concluído que uma possibilidade de associação seria a ZIF (Zona de Intervenção Florestal), mas poderia ser outra qualquer desde que os produtores assim o entendessem.
O 3º Painel, moderado pela Engª Rita Soares, da Silviconsultores e responsável pela constituição da ZIF de Mouriscas, teve a intervenção do Engº António Barreto, da Silvicaima, que falou sobre A Biomassa. Desta intervenção resultou o esclarecimento dos presentes sobre a utilização da floresta na produção da biomassa que vai alimentar as centrais de biomassa de produção de energia eléctrica. Destas centrais já existem duas em Portugal e outras têm construção prevista a curto e médio prazo. Mais uma vez ficou patente que o ”minifúndio” existente em Mouriscas não é compatível em termos concorrenciais para a produção e colocação na central da biomassa que se venha a gerar na floresta, nesta freguesia. Actualmente, tudo atinge grandes dimensões pelo que, só através de grandes investimentos, é possível obter retorno o que vem, mais uma vez, apelar para a associação de produtores ou para o emparcelamento de que há tantos anos de fala, mas que nunca foi possível concretizar. Por último, falou a Engª Susana Bento, da Federação Portuguesa de Caçadores, sobre a Cinegética, a importância da caça na floresta e a necessidade também da associação dos caçadores que, em Mouriscas, já deu os seus frutos, estando, portanto, no bom caminho. Não foi possível tratar o tema anunciado “Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios” por impossibilidade,de última hora, do orador convidado.
A encerrar o colóquio, na ausência dos convidados anunciados, estiveram o Presidente da Junta de Freguesia, Manuel Grilo, o Engº Simão Pita da Escola Profissional e o Dr Humberto Lopes da ADIMO. Para além dos agradecimentos devidos aos oradores, aos presentes e aos apoiantes da iniciativa, foram todos unânimes na importância desta acção junto dos proprietários da Freguesia, no seu esclarecimento e no conhecimento dos apoios e de como podem ser conseguidos para recuperarem o património criado ao longo de dezenas de anos e que, em poucas dezenas de minutos, ficou totalmente destruído pelo incêndio que deixou a Freguesia mergulhada numa paisagem castanha onde, antes, a paisagem era verdejante.

Humberto Lopes

Notícias de 1903

06.12.07 | João Manuel Maia Alves
O jornal “Echo do Tejo”, que se publicou em Abrantes, na sua edição de 1 de Novembro de 1903 inseriu notícias relativas a Mouriscas. Vejamos estas, da secção “Factos e boatos”, na estranha ortografia da época, que quase dispensava acentos.
Professores das Mouriscas

Foram autoados os professores primarios das Mouriscas. Que o professor primario o fosse não era de espantar an¬tes de espantar era que o não tivesse sido ha mais. Mas que a professora tambem soffresse da sorte do professor é que é de admiração.
.
Não se acautelem as professoras d'estas redondezas em agradar ao Borralho das Mouriscas e verão o trambolhão que levam.

É o caso!

Não temos, ha muito, visto nenhuma ladainha hybrida nem ao nosso par do reino celeste, nem a nenhum dos seus satellites.

Estamos á espera todos os dias de dizer ora pro nobis ao celebrante e não conseguimos.

Alguma vez será.

A última parte é bastante misteriosa. Talvez os leitores da altura a percebessem.

Quem seria o Borralho? Era certamente pessoa de influência. Talvez tivesse nascido noutra localidade, já que não consta que mourisquenses tenham tido esse apelido. Ou Borralho seria uma alcunha?

Vejamos agora outras notícias, da secção “CORRESPONDÊNCIAS”. É referido o que aconteceu aos professores. Fala-se de “um homem que aquece sem dar chama”. É evidentemente o mencionado Borralho.

MOURISCAS

Esta freguezia que continua, como todas as mais, ao abandono dos poderes publicos teve emfim alguem que se lembrasse de zelar os seus interesses. Trata-se da svndicancia que o sub-inspector d'esta circunscripção levantou ao pro¬fessor primario pelo abandono systhematico com que regia a sua escola. Era sabido que o professor deixava passar dias consecutivos sem que os seus alumnos conseguissem pôr-lhe a vista, e era nosso intento pedir providencias a quem as pudesse dar. Não foi, porem, preciso. O digno sub-inspector antecipou-se-nos e muito bem andou em assim proceder.

Porque quem quer auferir ordenados sahidos da bolsa dos contribuintes ha-de prestar os serviços a que se obrigou a quem lhe paga. E o professor só sabia receber sem trabalhar como era do seu dever.

Tambem foi autuada a professora primaria official d'esta freguezia. Não sabemos o motivo porque constando-nos que se trata de perseguição de um homem que aquece sem dar chama.

A seu tempo haverá quem apague os borralhos com alguma chapada de agua, que embora seja fria tambem ha-¬de aquecer.

A auctoridade administrativa tem feito nos últimos tempos por aqui uns actos que hão-de leval-o ao capitólio. (Parece que devia estar escrito “leval-a”). A seu tempo serão conhecidos e esmuiçados para que não lhe falte a devida consagração.

Foi aqui muito sentida a morte do venerando parocho de Alvega, natural d’aqui.

Foram prestar-lhe a ultima homenagem todos os seus parentes e muito povo. Também alli compareceu o reveredo parocho d’esta freguezia que desinteressadamente prestou ao seu collega os serviços do culto.

A que actos da auctoridade administrativa se referia a notícia? Devia ser algo importante porque poderia levá-la ao capitólio, isto à glória.

O pároco falecido chamava-se Severino Ferreira Sant’Anna. Este blogue publicou a notícia da morte, com muitos dados biográficos deste mourisquense, que foi uma pessoa notável, em 26 de Abril de 2006.

O pároco de Mouriscas, também referido, era o Padre Henrique Neves, que haveria de ser protagonista dum conflito político-religioso que este blogue narrou em 7 de Julho de 2006.