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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Falar mourisquense (14)

29.10.07 | João Manuel Maia Alves
ENTREGAR – Manter-se em pé ou na posição vertical (Estava tão bêbado que nem entregava. Este cântaro está gasto por baixo e não entrega.)

NÂO OUVES? NÂO OUVE? – Não é exactamente uma pergunta, mas uma introdução ao que se vai dizer ou perguntar. Equivale a “escuta o que te digo” ou “escute o que lhe digo”. (Não ouve? Se fosse a si, comprava a casa do seu tio. Não ouves? Aquelas partilhas vão deixar todos zangados.)

PRATO DE LEVAR E TRAZER – Bisbilhoteiro, pessoa que num lado ouve ou vê o que se passa para ir contar noutro. (Ela serve de parto de levar e trazer entre as duas famílias. Não se vêem nem se falam, mas andam bem informadas uma da outra.)

METER VENENO – Deteriorar relações, dando em segredo a uma ou mais pessoas informações ou incitando a certas acções. (Ela e a mulher começaram a dar-se mal quando a mãe dele foi morar com eles e começou a meter veneno.)

QUESTà – Questão. (Eles não se entenderam nas partilhas. A questã foi resolvida no tribunal. Noutros tempos por uma questã de água da rega ou de divisão de bens, faziam-se inimigos para toda a vida e matavam-se pessoas,)

VOMECÊ – Vossemecê. Continua a ouvir-se frequentemente em Mouriscas. (Que é que vomecê quer? Vomecê já se vai deitar?)

TIO, TIA – Senhor, senhora, mas de uso mais informal. (Quem és tu, meu menino? És filho do tio João Mendes? Não, sou filho do tio Lúcio Farinha.)

VOSSO, VOSSA – Quando alguém se referia a familiares próximos da pessoa com quem falava, era usual usar “vosso” e “vossa” em vez de “teu” e “tua”, mesmo que falasse com pessoa muito mais nova e a tratasse por tu. Ainda não se perdeu este uso. (Sou muito mais velho que tu. Ainda andei na escola com o vosso pai.)

PANCADISTA – Que tem pancada, mania, excentricidade. (Para onde quer que vai transporta à mão uma mala grande. Usa sempre um chapéu com abas muito grandes e óculos escuros. É pancadista de todo.)

VENTANEIRA – Que muda fácil ou frequentemente de opinião. (Hoje diz uma coisa, amanhã outra. É um ventaneira.)

PANTOMINEIRO – Vigarista, indivíduo pouco sério. (Ninguém gosta de fazer negócios com ele. Tem fama de pantomineiro.)

Falar mourisquense (13)

20.10.07 | João Manuel Maia Alves
O QUER QUE É, O QUER QUE FOI – Coisa ou acontecimento indefinido, no presente ou no passado, respectivamente. (Ontem parece que houve brigas e discussões nas festas. Sim, ouvi dizer que houve lá o quer que foi. Parece que o seu pai quer que lhe vá lá fazer o quer que é).

DESENVOLTAR – Mudar, falando do tempo. (Estão a aparecer além umas nuvens escuras. Parece que o tempo vai desenvoltar.)

BARDA – Mancha no céu. (Ontem havia uma barda vermelha no céu. Tenho a impressão de que vamos ter mais calor.)

NORUEGA – Aspecto do céu. (Como é está a noruega? Está tudo limpo e estrelado.)

MARESIA – Tempo nublado e húmido em manhã da época de tempo quente. O verdadeiro significado da palavra é cheiro do mar quando a maré baixa. (E que tal esta maresia? Deixa, que daqui a bocado já aparece o sol e vamos ter outra vez um dia de calor. Manhã de maresia, tarde de calmaria.)

CAIR UMA ORVALHADA, CAIR UMA CAMADA DE GEADA – Quando acontecem estes fenómenos, o orvalho ou a geada não caem; formam-se ao nível do solo. No entanto, era e é vulgar ouvir-se dizer em Mouriscas que caíram. (Esta noite caiu um grande camada de geada.)

MERCAS – Compras. Esta palavra ouvia-se há décadas da boca de pessoas mais idosas. (Fui à Estalagem às mercas. Comprei o que era preciso para a matança do porco.)

ADOQUE (pronunciado àdoque) – Atabalhoadamente, à pressa e imperfeitamente. (Esta parede ficou muito mal rebocada. É mesmo um trabalho feito adoque.) Depois da revolução de 25 de Abril de 1974, muita gente em Mouriscas ficou confusa porque começou a ouvir falar de coisas como “exames ad hoc” e “comissões ad hoc”, expressões que pareciam não ter relação com trabalhos feitos à pressa e mal. “Ad hoc” é uma expressão latina que significa “para isto”, isto é “para determinada função ou missão”.

FEIRA – Compra, especialmente de brinquedo, na feira de S. Matias, de Abrantes. Esta feira, realizada em Fevereiro e Março, foi noutros tempos um acontecimento anual muito importante para as gentes de Mouriscas. O dia principal, o primeiro domingo de Março, atraía imensos visitantes de Mouriscas. (Então que feira é que o teu pai te comprou? A minha feira foi uma corneta de barro.)

BARATA A FEIRA – Expressão para indicar que qualquer coisa custou pouco dinheiro. (Esta boina custou 50 escudos. Barata a feira.)

TANGANHO – Ramo cortado de árvore e seco. (Fez uma fogueira com tanganhos para se aquecer.)

Tia Joana fez 103 anos

08.10.07 | João Manuel Maia Alves
Um dos primeiros artigos deste blogue celebrou os 100 anos de Joana Dias, também conhecida por Tia Joana da Azenha ou simplesmente Tia Joana. Estávamos em Agosto de 2004. Volvidos três anos, a Tia Joana continua viva e de boa saúde. Quem viu o programa que a SIC lhe dedicou não pôde deixa de notar a lucidez, o bom aspecto e a alegria patentes na Tia Joana.É com muito júbilo que este blogue publica o artigo que Carlos Bento escreveu a propósito dos 103 anos da sua tia. Segue-se o texto do artigo.MOURISCAS DE PARABÉNSA TIA JOANA DA AZENHA CELEBROU 103 ANOS DE IDADEjoana.dias.JPGNo passado dia 4 de Agosto houve festa rija no lugar da Murteira, da freguesia de Mouriscas, para celebrar os 103 anos de Joana Dias, filha de José Lopes Mestre e de Joana Dias, nascida em 4 de Agosto de 1904, no lugar de Camarrão, da dita freguesia.Familiares e amigos mais uma vez se reuniram para prestar homenagem a uma das filhas mais idosas de Mouriscas e, em são convívio, com ela partilharem um almoço à moda da terra, regado com excelente vinho caseiro, que a todos agradou. Depois cantaram-se os Parabéns e saboreou-se o Bolo de AniversárioDignou-se também estar presente uma equipa de jornalistas da SIC que realizou várias entrevistas não só com a tia Joana com também com familiares e amigos, que viriam a ser transmitidas na manhã do dia 7 do mesmo mês, no Programa de Fátima Lopes.A convite da mesma estação televisiva, a tia Joana, acompanhada de familiares e amigos, deslocou-se a Lisboa a fim de participar no aludido Programa. Aqui mostrou inequivocamente que, embora os seus 103 anos, continua com saúde e com uma vivacidade e memória extraordinárias, que fazem inveja a muitos jovens. Contou um pouca da história da sua vida e recordou alguns versos de cantigas da sua juventude. Depois ouviu, emocionada, os Parabéns e, na despedida, pediu a Deus Paz e Saúde para todos.Neste último ano a tia Joana viu aumentada a família com o nascimento de mais um sobrinho trineto, o Guilherme.PARABÉNS à Tia Joana com votos para que continue a somar anos à sua vida, pedindo a Deus que continue a dar-lhe saúde, vontade e alegria para viver.Viver 103 anos, com saúde, paz de espírito e boa memória é privilégio apenas dos mais afortunados. A Tia Joana deve sentir-se feliz por isso. Também os sobrinhos e, com certeza, todos os mourisquenses se sentem honrados e se associam a mais este aniversário.Escreveu este texto o sobrinho Carlos Bento, em 10.08.2007.