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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Comício republicano em Mouriscas

27.08.06 | João Manuel Maia Alves

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António José de Almeida

 

Esta barbuda criatura pertence à história de Portugal. Foi antes de 1910 vulto importante do movimento republicano como deputado, jornalista e orador. Depois foi, além de outras coisas, Presidente da República. Durante os quatro anos do seu mandato presidencial dirigiram o país dezassete chefes de governo, alguns dos quais estiveram à testa de mais de um executivo. O seu nome foi António José de Almeida. Tem uma estátua na avenida de Lisboa com o seu nome.

O que fica dito pode ser muito interessante, mas não mereceria uma linha sequer se António José de Almeida não tivesse pertencido à história mourisquense, já que este blogue é dedicado a Mouriscas, a terra e as pessoas com ela relacionadas. Na verdade, António José de Almeida também pertence à história de Mouriscas, pois na manhã  do dia 3 de fevereiro de 1907 veio fazer um comício a Mouriscas.

Noutros tempos ouvia-se dizer que antes de 5 de outubro de 1910 deslocavam-se a Mouriscas líderes republicanos de Lisboa para propagandear as suas ideias à saída da missa. Aquando duma dessas visitas um mourisquense desconfiado da generosidade das promessas feitas teria dito algo como o meu burro não ronca pela albarda, mas pela ração, frase pouco própria para ser usada por gente fina mas que mostra profunda sabedoria. Durante muito tempo esta frase era muito usada em Mouriscas para mostrar desconfiança de certas promessas. Segundo algumas pessoas, essa notável frase teria sido proferida aquando duma visita de António José de Almeida. Também se contava que duma das vezes um orador prometia, como faziam frequentemente os republicanos, bacalhau a pataco, quando foi interrompido por um dos presentes que perguntou se S. Exa. não podia ir já mandando algum.

Não se veem razões especiais para líderes republicanos da capital virem a Mouriscas. Não era fácil as pessoas deslocarem-se e havia muitas outras localidades onde o número potencial de conversões era bem maior. No entanto, pelo menos uma vez, fizeram um comício em Mouriscas e António José de Almeida foi a principal vedeta.

 Vamos ver o que aconteceu, segundo os semanários Jornal de Abrantes e O Abrantes de 10 de fevereiro de 1907. Pelas 9 da noite de 2 de fevereiro de 1907, um sábado, desembarcaram do comboio na estação de Abrantes vultos republicanos de primeira grandeza. Dois deles,  António José de Almeida e Bernardino Machado, viriam a ser presidentes da república. Viajaram para Abrantes, onde pernoitaram, com a intenção de fazer na cidade um comício na tarde do dia seguinte. Na manhã seguinte, um lindo domingo de sol de inverno, segundo o semanário O Abrantes, António José de Almeida deslocou-se a Mouriscas para falar aos seus habitantes. Fê-lo a pedido do mourisquense Manoel Lopes Esteves. Este homem foi um dos mais assanhados republicanos de Mouriscas. Foi muito falado durante décadas pelo seu envolvimento em vários conflitos. A imagem de N. Sra. dos Matos foi partida por pessoas que assaltaram a capela. O nome de Manoel Lopes Esteves esteve associado a esse episódio.

No comício de Mouriscas António José de Almeida foi o principal orador. Talvez as suas qualidades oratórias e tantas e tão belas promessas feitas tenham levado um dos presentes a genialmente afirmar: o meu burro não ronca pela albarda, mas pela ração. António José de Almeida afirmou também que a República não era contra a Igreja ou contra os padres, o que mostra que sabia onde estava a falar; diga-se, aliás, que tais palavras estiveram de harmonia com o seu comportamento posterior. Em coerência com tais afirmações, foi depois cumprimentar o pároco, Padre Henrique Neves, que segundo o Jornal de Abrantes, ficou cativado com a gentileza. Este padre viria a aceitar uma pensão do Estado em 1911, o que deu origem a um conflito político-religioso em Mouriscas que durou à volta de vinte anos. Lembram-se do artigo O padre-pensionista e a banda excomungada, de julho passado?

De Mouriscas os visitantes republicanos foram para Abrantes, onde à tarde participaram noutro comício. À noite realizou-se um banquete. Houve numerosos brindes, um deles do já referido Manoel Lopes Esteves, em nome dos correligionários de Mouriscas. Só outra freguesia do concelho, S. Miguel do Rio Torto, teve um brinde semelhante.

 

Material consultado:

Primeiras e segundas páginas dos semanários Jornal de Abrantes e O Abrantes, de 10 de fevereiro de 1907, transcritas no livro ABRANTES - 1916.

Processo de elevação a cidade, editado em 1992 pela Câmara Municipal de Abrantes, da autoria de Isabel Cavalheiro e Eduardo Campos e prefaciado pelo Dr. Humberto Pires Lopes, mourisquense então presidindo ao município.

 

 João Manuel Maia Alves

 

Mouriscas e o azeite (3)

22.08.06 | João Manuel Maia Alves
lagar-2.JPGMoinho da azeitona de lagar de tracção animalO pagamento dos serviços do lagar era feito em azeite, através da chamada maquia, que era uma percentagem determinada de azeite que ficava para o lagar, para depois ser vendido. O lucro do lagar dependia assim da capacidade de negociação do seu proprietário com os armazenistas que compravam grandes quantidades de azeite. O próprio Governo decretava anualmente, através da Junta Nacional do Azeite, uma tabela com o seu preço de venda. Havia no entanto uma margem pois os armazenistas muitas vezes pagavam acima da tabelaTambém no final dos trabalhos do lagar, havia as filhós, à semelhança do que acontecia com o rancho, e que, como não podia deixar de ser, constavam de uma grande jantarada em que não faltavam as filhós, por acontecer próximo do Natal.Em Mouriscas, na década de cinquenta, havia cerca de vinte lagares de azeite, uma parte deles com propulsão a motores diesel e ainda alguns movidos a água, e portanto localizados junto a ribeiras. Também existia pelo menos um lagar em Mouriscas, na Bica da Pedra, que era movido por um animal de raça muar Posteriormente os movidos a diesel passaram o utilizar a electricidade e os de água vieram a desaparecer.Antes da existência das prensas hidráulicas, que ainda existem na maioria dos lagares, o aperto para a extracção do azeite era feito por um processo de vara com fuso, que funcionava como alavanca. O fuso com rosca entrava num olhal na extremidade da vara e tinha uma porca que ao rodar por acção da força humana deslocava para baixo a ponta da vara a qual apertava as seiras colocadas em forma de pilha, com a massa. Pelo facto da cultura da oliveira em Mouriscas ser intensiva, o que provocou a necessidade da existência de lagares de azeite, ocorreu o desenvolvimento das fábricas de seiras e capachosNo inicio eram utilizadas as seiras, redondas e com uma bolsa onde era introduzida a massa. Posteriormente passou a utilizar-se os capachos que eram apenas em forma de disco e fabricados em cairo. As primeiras seiras eram fabricadas em esparto.Ainda como consequência do desenvolvimento da produção de azeite em Mouriscas e com a evolução dos conhecimentos práticos adquiridos pelos mestres dos lagares passaram estes a ser conhecidos em vários pontos do país e a deslocarem-se para esses locais onde desempenhavam as suas funções com grande competência, o que suscitava a satisfação dos seus patrões, que os contratavam anos a fio.Todas estas informações resultaram das recordações da minha vivência em Mouriscas durante a juventude, onde estudei no Colégio Infante de Sagres e também do acompanhamento muito próximo da actividade agrícola da minha família, em particular as frequentes visitas, que fazia com o meu pai ao lagar de azeite da família, hoje Cooperativa Mouritejo. Nessas idas frequentes ao lagar sempre me interessei bastante pelos pormenores do fabrico do azeite e dos equipamentos que constituíam o lagar.Ali comi umas boas torradas de azeite puro, feitas com pão da padaria do Sr Pedro Oliveira, que era ali perto, torrado na fornalha da caldeira e depois mergulhado no azeite das tarefas. Julho de 2006Alberto Grossinho

Mouriscas e o azeite (2)

14.08.06 | João Manuel Maia Alves
lagar_1.JPGA mistura do azeite com a água ficava depois algum tempo nas tarefas, onde decantava, ou seja, onde a água se separava do azeite. As tarefas tinham uma forma tal que facilitava esse processo. Eram cilíndricas, com a parte inferior em forma de cone invertido, quando em chapa, e redondas, com um grande diâmetro na boca e reduzindo o diâmetro até ao fundo, onde existia um bojo em forma de cântaro pequeno, quando feitas em barro. Ligeiramente acima do fundo as tarefas de chapa tinham uma torneira e as de barro um furo, que servia para a saída da água ruça, que era constituída pela água que havia sida lançada sobre os capachos e os restos da azeitona, que não são azeite nem bagaço. O sistema de fecho do furo das tarefas de barro, tinha algo de interessante pois era constituído por um pau de diâmetro inferior ao furo e na sua extremidade interior tinha uma cabeça feita de estopa enrolada em varias camadas, em forma de roca, o qual tinha o nome de “espicho”. Era colocado na tarefa de dentro para fora. A pressão interior do azeite empurrava o espicho para fora mantendo o furo tapado. Quando era necessário retirar a água ruça, bastava empurrar a parte exterior do pau, permitindo que a água saísse. A estopa enrolada ao pau tinha uma forma cónica para facilitar a vedação. Durante o processo de decantação, era misturada água muito quente e agitada a mistura, o que melhorava o processo em causa . Esta agitação era assegurada através de uma vara de marmeleiro.A fase seguinte do processo de fabrico do azeite consta da retirada da água ruça, que após a decantação, por ser mais densa que o azeite, se acumulou no fundo das tarefas. Para isso é feita a abertura da torneira, nas tarefas de chapa, ou se empurra ligeiramente o espicho, no caso das de barro. A água vai saindo, mas é necessário não deixar sair o azeite e para isso o “mestre do lagar”, que é o responsável pelas tarefas mais importantes, através de uma varinha, normalmente de marmeleiro, flexível, vai agitando ligeiramente nos dois sentidos e mergulhando a varinha, sente quando a sua ponta passa do nível do azeite para o da água, por esta provocar maior atrito nos movimentos laterais. É claro que nunca se deixa sair a água toda, ficando sempre no fundo da tarefa uma pequena quantidade de água, sendo a separação desta do azeite, feita quando se retira o azeite por cima, sendo utilizada na parte final uma vazilha própria, com a face plana para recolher o azeite e deixar a água ruça. Para o desempenho desta função é necessário ter muita sensibilidade e experiência. Actualmente a separação do azeite e feita através de centrifugadoras, que aumentam ligeiramente a produção, pois executam uma separação mecânica mais eficiente e o azeite cria depois menos pé. Há opiniões de que o azeite centrifugado perde algumas qualidades de sabor por ser submetido ao efeito da força centrífuga contra as paredes do tambor da máquina.O azeite era depois transportado para casa dos respectivos donos utilizando muitas vezes o transporte do dono do lagar. Em alguns casos ficavam os excedentes para venda.Além do azeite, saía da azeitona o bagaço, que ficava nos capachos após a prensagem. Este bagaço, que era constituído pelos restos da azeitona, incluindo o caroço moído, era em alguns casos depois de retirado das seiras, molhado, de novo colocado nos capachos, sofrendo uma segunda prensagem, para retirar mais algum azeite. Era uma operação que nem sempre resultava e quando se fazia, o primeiro aperto não era tão forte. O bagaço, que normalmente era entregue ao dono da azeitona, servia em geral para a engorda dos suínos.(Continua)Alberto Grossinho

Parabéns à “Tia Joana da Azenha” que faz 102 anos

04.08.06 | João Manuel Maia Alves
Joana_Dias.JPGFoto de 1.1.2006Esta ilustre Senhora nasceu no já longínquo dia 4 de Agosto de 1904, em Mouriscas, no casal de Camarrão, sendo a filha mais nova de uma família mourisquense, então constituída pelo pai José Maria Mestre (08.10.1867-16.07.1949), carpinteiro de profissão e, depois, moleiro, pela sua mãe Joana Dias, conhecida por Ti Joanita (02.01.1868-29.05.1959), doméstica e moleira, e pelos irmãos David Lopes Mestre (13.06.1897-2.03-1988), carpinteiro, moleiro e agricultor e Joaquina Dias (20.03.1899-07.03.1993), doméstica.Aprendeu a ler, a escrever e a contar em casa da mestra de escola Teresa Fernandes, que morava no Casal Pita.Depois foi aprender costura e bordados com a mestra Antónia Venância, moradora no casal do Outeiro, que enquanto solteira, se dedicou ao ensino da sua arte às jovens. Pensava ser costureira, mas pelo facto de deu pai tomar conta dos engenhos de farinação que eram do seu tio Feliciano Lopes Mestre, o seu sonho não se concretizou.Enquanto solteira, costumava ir aos bailes, abrilhantados apenas com gaitas de beiços e cantares, que se realizavam nas noites de Domingo, em casa do ti Manuel Vargasta, sempre acompanhada da sua irmã Joaquina. Para pagamento da utilização da casa de fora utilizada para o efeito ofereciam ao seu proprietário sabão para a esfregar e petróleo e azeite para a iluminação.Nesse tempo era costume fazer-se um arraial todos os Domingos, no Largo da Cabaça, que atraia muitos jovens e adultos, que da vizinhança ali se deslocavam para conviver e se divertir.Lembra-se do tempo de criança das festas dedicadas à Nossa Senhora dos Matos, que atraiam gente de toda a freguesia.Casou com o mourisquense Joaquim Grilo Cadete (24.08.1912-05.02.1975), em 06.09.1932, pedreiro e mestre de obras, passando o casal a viver no casal do Surdo, perto dos pais do noivo, mudando-se, anos mais tarde, para o lugar dos Penedos, onde a “Tia Joana” viveu, mesmo depois de viúva, até há poucos anos, quando se entregou aos sobrinhos. Recorda com saudade que, no dia do seu casamento, foi transportada numa égua do sr. Luís Farinha, aliás, utilizada em quase todos os casamentos da terra. O casal não teve filhos.Acompanhando o marido, viveu algumas temporadas fora de Mouriscas.Continua com boa memória e lucidez, fazendo inveja aos idosos mais novos, e fala dos seus avós paternos Manuel Lopes Mestre e Francisca Lopes e maternos Francisco Serrano (Palhinhas) e Rosária Dias e dos seus tios de ambos os lados, nomeando-os, sem dificuldade. O mesmo acontece, em relação aos sobrinhos directos, num total de 31, e afins e seus descendentes: sobrinhos-netos, sobrinhos-bisnetos e sobrinho-trinetos. O mais velho dos familiares directos, todos ainda no mundo dos vivos, o José tem 80 anos e o mais novo, a Inês, 6.Neste dia em que faz a bonita idade de 102 anos, uma das pessoas mais velhas da nossa freguesia de Mouriscas e do nosso concelho de Abrantes, todos os seus sobrinhos dão os PARABÉNS à Tia Joana e fazem votos para que continue a somar anos à sua vida, pedindo a Deus que lhe continue a dar saúde, vontade e alegria para viver.Viver 102 anos, com saúde, paz de espírito e boa memória é privilégio apenas dos mais afortunados. A Tia Joana deve estar feliz por isso. Também os sobrinhos e, com certeza, todos os mourisquenses se sentem honrados e se associam a mais este aniversário.Escreveu este texto o sobrinho Carlos Bento, em 4.8.2006.

Mouriscas e o azeite

02.08.06 | João Manuel Maia Alves
lagar.JPGA população de Mouriscas sempre teve a sua actividade centrada na agricultura de pequena dimensão, baseada na mão de obra dos próprios donos das terras e dos seus familiares. Os produtos desta actividade eram utilizados no consumo das famílias e dos seus animais e, em certos casos, os excedentes constituíam uma fonte de rendimento muito importante, que permitia satisfazer necessidades fundamentais, como o vestuário, as obras nas habitações, a educação dos filhos e outras.Constituíam pois fontes de rendimento o azeite, os figos, os pinheiros, produtos hortícolas, vendidos à porta e na praça, os cereais, como o milho e o trigo, e ainda alguns animais, sobretudo os porcos e os cabritos, que eram engordados com base nos produtos da terra.Da produção própria, era o azeite, sem qualquer dúvida, aquele que melhores rendimentos assegurava, dada a sua qualidade, e o seu elevado valor no mercado como consequência dos bons hábitos alimentares dos Portugueses. Por esta razão o estado das oliveiras, a bondade do ano de azeite e o seu preço eram sempre factores de interesse e de discussão por influenciarem a economia familiar, permitindo ou não fazer as compras necessárias. Algumas vezes tinha de haver um adiamento das compras, por ter sido um mau ano de azeite. Era até costume verificar se na noite de Natal o céu estava estrelado, o que era indício de um ano promissor de azeitona.A produção do azeite, desde a apanha da azeitona e o seu transporte até ao lagar, o fabrico, e a venda do que excedia o consumo próprio ocupavam as pessoas residentes em Mouriscas durante algumas semanas no final de cada ano.A apanha da azeitona é uma tarefa que necessita de muita mão de obra e, mesmo hoje em que, fruto do desenvolvimento tecnológico e da necessidade de aumentar a produção já existem algumas máquinas, ainda não foi possível dispensar uma boa parte dessa mão de obra. Para executar essa tarefa, existiam os “ranchos“, que eram grupos de homens e mulheres, ou da terra ou de outras localidades, normalmente recrutados pelos donos dos lagares e que iam apanhar a azeitona das várias pessoas, a qual era transportada pelo próprio dono do lagar onde era moída. Os donos dos lagares conseguiam assim captar clientes, pelo facto de disporem de um rancho. Recordo-me de, por volta do ano de 1952, os homens do rancho ganharem vinte escudos por dia e as mulheres dez. Este trabalho durava algumas vezes até fins de Janeiro se o ano era bom, mas também não chegava ao Natal, quando era fraco. No final da época havia normalmente as “filhós” do rancho, que constavam de um cortejo, desde o último olival, normalmente do patrão, até à casa deste, com um acordeonista em alguns casos, e os homens, rapazes, mulheres e raparigas a cantar canções populares. Havia depois um jantar e bailarico até às tantas. Tudo isto era bem “regado”, sobretudo quando a ano era produtivo, com vantagens para todos, patrão e trabalhadores.Após a entrada da azeitona no lagar, nova etapa do processo se iniciava, a sua moedura . Esta fase, uma vez que a capacidade produtiva dos nossos lagares não era satisfatória nos anos de grande produção, gerava alguma pressão junto do mestre, por parte dos clientes, no sentido de acelerar a sua moedura, pois que não era aconselhável a permanência da azeitona muito tempo no lagar. Mas chegada a sua vez, lá entrava no moinho e se iniciava o fabrico do azeite, com a moedura, a passagem para os capachos, que eram colocadas em pilha nos carros e depois apertados nas prensas. Durante a aperto, o enseiramento, nome que era dado a uma pilha de capachos com a massa, tinha que ser guiado no carro, com umas trancas de madeira, fazendo de alavanca contra as colunas da prensa, para manter o alinhamento vertical do enseiramento pois que pelo facto de a massa da azeitona, com o azeite, ser muito escorregadia, havia a tendência para a pilha entortar. O aperto era lento para assim escorrer o máximo de azeite, o que era facilitado através de várias regas das seiras com água muito quente, arrastando assim o azeite, que escorria para o carro e depois, através de um tubo feito de pano, era conduzido através de uma caleira ou tubo para as tarefas. A rega era feita ou com um regador, ou em alguns casos, por um tubo circular com muitos furos, montado no tecto da prensa, o qual recebia a água da caldeira.(Continua)Alberto Grossinho