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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Formas de tratamento (3)

25.10.05 | João Manuel Maia Alves
Continuemos a falar de formas de tratamento em Mouriscas.

Mouriscas era uma terra de compadres e comadres. Se duas pessoas não casadas uma com a outra eram padrinhos duma criança, tornavam-se compadres. Cada uma tornava-se também compadre ou comadre dos pais e avós da criança. Os pais e avós de cada uma tornava-se compadre ou comadre dos pais e avós da outra.

Era habitual nos casamentos o noivo ter dois padrinhos e a noiva duas madrinhas. Cada padrinho ou madrinha e o seu cônjuge tornavam-se compadre ou comadre dos outros padrinhos ou madrinhas e dos pais e avós de cada um dos noivos.

Cada baptismo ou casamento dava origem a vários compadres e comadres. Havia pessoas com muitos afilhados. Dificilmente saberiam o número dos seus compadres ou comadres.

Para mostrar respeito a um compadre ou comadre, havia quem se lhe dirigisse por “senhor compadre” ou “senhora comadre”.

Às vezes uma pessoa era padrinho ou madrinha de alguém que tratava por tu. O habitual era o afilhado passar a tratá-la por “padrinho” ou “madrinha”.

Os parentescos transmitiam-se com o casamento. Quando uma pessoa casava, os seus tios, avós, primos e parentes passavam a ser tios, avós, primos e parentes do cônjuge.

Havia uma forma curiosa de, por vezes, ser referido um parente, como, por exemplo, na frase “vou agora contar uma coisa que aconteceu ao meu Pita”. O Pita era, neste caso, um parente da pessoa que falava. As outras pessoas sabiam de quem se tratava quando a outra dizia “o meu Pita”.

Em certas famílias ou relativamente a certas pessoas usava-se “mano ou mana” em vez de “irmão” ou “irmã”. Muitas vezes uma pessoa dizia “o seu mano” ou “a sua mana“ como forma de cortesia. Também, por cortesia, se “dizia o vosso pai” ou “a vossa mãe, mesmo que se falasse com alguém que se tratava por tu.

Numa família de elevada posição social, podia haver um filho que passava de “o menino” ou “o menino X” para“o Sr. Dr.” ou “o Sr. Dr. X”.

Havia casos especiais. Assim, a “menina Capitolina”, que teve uma loja na Estalagem, ficou assim toda a vida, mesmo depois de casar. Uma senhora francesa da família do Dr. Santana Maia era conhecida e tratada por “madame”. Havia também “o mano Afonso”, cantoneiro morador nas Casas Pretas e o “Mestre Eduardo”, pessoa da Estalagem muito conhecida que se chamava Eduardo Martins. Muitos recordam ainda o Mestre Ricardo, que foi mestre-escola no Carril e nas Casas Novas.

Este foi o último artigo sobre formas de tratamento em Mouriscas. Pretendeu-se dar umas pinceladas dum interessante assunto que dá pano para mangas.

João Manuel Maia Alves

Registos insólitos

18.10.05 | João Manuel Maia Alves
Antigamente o registo dos baptizados, casamentos e óbitos era feito na Igreja pelos Padres, então chamados Curas ou Parochos. Não era obrigatório.

Os livros de registo paroquiais que se conservaram podem ser consultados na Torre do Tombo, em Lisboa, ou nos Arquivos Distritais, nas sedes de distrito.

Com a implantação da República foi instituído o registo civil obrigatório.

Os baptizados eram considerados legítimos se os pais tinham a situação regularizada perante a Igreja e ilegítimos se os pais não eram casados pela Igreja. Nos registos paroquiais encontram-se também muitos filhos de pais incógnitos.

Noutros tempos, nos anos de mil e oitocentos e anteriores, eram relativamente frequente serem abandonados recém-nascidos que se designavam por Expostos. Nas cidades havia, inclusivamente, locais próprios para abandonar as crianças. Estas atitudes, hoje intoleráveis, eram correntes.

Dos registos paroquiais da freguesia de Mouriscas mostramos dois casos, mantendo a ortografia da altura.

--- Caso de um filho incestuoso, visto pais serem parentes, embora em grau afastado

Rosaria, filha incestuoza de Manoel Lopes e de Maria de Mattos, viúva, ambos do Camarrão, desta Freguesia de Sto. Sebastião, do logar das Mouriscas, Concelho e Arciprestrado de Abrantes, Byspado de Castelo Branco, nepta via paterna de Marcos Lopes e de Maria Pires, ambos do Camarrão, desta Freguesia, e via materna de Domingos Pires e de Luiza de Mattos ambos do Camarrão desta freguesia, nasceo no dia quatro de Agosto de mil oitocentos e quarenta e dous, e foi baptizada solenemente pelo Parocho abaixo assignado no dia oito do mesmo mês e ano e legitimada pelo subsequente Matrimónio depois de dispensados em terceiro e quarto grau de consanguinidade no dia vinte de Novembro do mesmo ano supra, forão padrinhos José Diniz, solteiro, do Outeirinho desta Freguesia e Nossa Senhora do Rosário, porque tocou na Pia Baptismal em honra de Nossa Senhora Joana dos Santos, solteira, forão testemunhas Manuel Ferreira, sacristão, e João Mendes do Casal da Igreja todos desta freguesia de Sto. Sebastião, do logar das Mouriscas, concelho e arciprestado de Abrantes, Byspado de Castelo Branco e para constar fiz este termo no ano dia e mês supra.
O Parocho………..Vicente Mendes Mirrado
As testemunhas….Manuel Ferreira
João + Ferreira

--- Caso do baptizado de uma Exposta (abandonada) nas Casas Novas

No dia dous de Dezembro de mil oitocentos e trinta e seis appareceo huma exposta nas Casas Novas, por se achar em perigo de vida foi baptizada particularmente por Luís Dias Serras das Casas Novas, desta fregª de Sto. Sebastião das Mouriscas, termo e Arciprestrao da Villa de Abrantes, Byspado de Castelo Branco, e todas as mais cerimónias se celebrarão na forma do Ritual Romano pelo Cura abaixo assignado nesta Parochial Igreja de Sto. Sebastião das Mouriscas no dia quattro do mesmo mês de Dezembro e anno de mil oitocentos e trinta e seis e forão testemunhas Francisco de Mattos dos Xaroeiros a Maria dos Santos do Casal da Igreja, todos desta freguesia de Sto. Sebastião das Mouriscas, termo e Arciprestado da Villa de Abrantes, Byspado de Castelo Branco, declaro que a Exposta se chama Maria, e para constar fiz este termo no dia, mês e ano supra.

O Cura…………….Vicente Mendes Mirrado
As testemunhas….Francisco de Mattos
Maria dos Santos


Autor deste artigo: Augusto Maia Alves