Formas de tratamento (3)
25.10.05 | João Manuel Maia Alves
Continuemos a falar de formas de tratamento em Mouriscas.
Mouriscas era uma terra de compadres e comadres. Se duas pessoas não casadas uma com a outra eram padrinhos duma criança, tornavam-se compadres. Cada uma tornava-se também compadre ou comadre dos pais e avós da criança. Os pais e avós de cada uma tornava-se compadre ou comadre dos pais e avós da outra.
Era habitual nos casamentos o noivo ter dois padrinhos e a noiva duas madrinhas. Cada padrinho ou madrinha e o seu cônjuge tornavam-se compadre ou comadre dos outros padrinhos ou madrinhas e dos pais e avós de cada um dos noivos.
Cada baptismo ou casamento dava origem a vários compadres e comadres. Havia pessoas com muitos afilhados. Dificilmente saberiam o número dos seus compadres ou comadres.
Para mostrar respeito a um compadre ou comadre, havia quem se lhe dirigisse por senhor compadre ou senhora comadre.
Às vezes uma pessoa era padrinho ou madrinha de alguém que tratava por tu. O habitual era o afilhado passar a tratá-la por padrinho ou madrinha.
Os parentescos transmitiam-se com o casamento. Quando uma pessoa casava, os seus tios, avós, primos e parentes passavam a ser tios, avós, primos e parentes do cônjuge.
Havia uma forma curiosa de, por vezes, ser referido um parente, como, por exemplo, na frase vou agora contar uma coisa que aconteceu ao meu Pita. O Pita era, neste caso, um parente da pessoa que falava. As outras pessoas sabiam de quem se tratava quando a outra dizia o meu Pita.
Em certas famílias ou relativamente a certas pessoas usava-se mano ou mana em vez de irmão ou irmã. Muitas vezes uma pessoa dizia o seu mano ou a sua mana como forma de cortesia. Também, por cortesia, se dizia o vosso pai ou a vossa mãe, mesmo que se falasse com alguém que se tratava por tu.
Numa família de elevada posição social, podia haver um filho que passava de o menino ou o menino X parao Sr. Dr. ou o Sr. Dr. X.
Havia casos especiais. Assim, a menina Capitolina, que teve uma loja na Estalagem, ficou assim toda a vida, mesmo depois de casar. Uma senhora francesa da família do Dr. Santana Maia era conhecida e tratada por madame. Havia também o mano Afonso, cantoneiro morador nas Casas Pretas e o Mestre Eduardo, pessoa da Estalagem muito conhecida que se chamava Eduardo Martins. Muitos recordam ainda o Mestre Ricardo, que foi mestre-escola no Carril e nas Casas Novas.
Este foi o último artigo sobre formas de tratamento em Mouriscas. Pretendeu-se dar umas pinceladas dum interessante assunto que dá pano para mangas.
João Manuel Maia Alves
Mouriscas era uma terra de compadres e comadres. Se duas pessoas não casadas uma com a outra eram padrinhos duma criança, tornavam-se compadres. Cada uma tornava-se também compadre ou comadre dos pais e avós da criança. Os pais e avós de cada uma tornava-se compadre ou comadre dos pais e avós da outra.
Era habitual nos casamentos o noivo ter dois padrinhos e a noiva duas madrinhas. Cada padrinho ou madrinha e o seu cônjuge tornavam-se compadre ou comadre dos outros padrinhos ou madrinhas e dos pais e avós de cada um dos noivos.
Cada baptismo ou casamento dava origem a vários compadres e comadres. Havia pessoas com muitos afilhados. Dificilmente saberiam o número dos seus compadres ou comadres.
Para mostrar respeito a um compadre ou comadre, havia quem se lhe dirigisse por senhor compadre ou senhora comadre.
Às vezes uma pessoa era padrinho ou madrinha de alguém que tratava por tu. O habitual era o afilhado passar a tratá-la por padrinho ou madrinha.
Os parentescos transmitiam-se com o casamento. Quando uma pessoa casava, os seus tios, avós, primos e parentes passavam a ser tios, avós, primos e parentes do cônjuge.
Havia uma forma curiosa de, por vezes, ser referido um parente, como, por exemplo, na frase vou agora contar uma coisa que aconteceu ao meu Pita. O Pita era, neste caso, um parente da pessoa que falava. As outras pessoas sabiam de quem se tratava quando a outra dizia o meu Pita.
Em certas famílias ou relativamente a certas pessoas usava-se mano ou mana em vez de irmão ou irmã. Muitas vezes uma pessoa dizia o seu mano ou a sua mana como forma de cortesia. Também, por cortesia, se dizia o vosso pai ou a vossa mãe, mesmo que se falasse com alguém que se tratava por tu.
Numa família de elevada posição social, podia haver um filho que passava de o menino ou o menino X parao Sr. Dr. ou o Sr. Dr. X.
Havia casos especiais. Assim, a menina Capitolina, que teve uma loja na Estalagem, ficou assim toda a vida, mesmo depois de casar. Uma senhora francesa da família do Dr. Santana Maia era conhecida e tratada por madame. Havia também o mano Afonso, cantoneiro morador nas Casas Pretas e o Mestre Eduardo, pessoa da Estalagem muito conhecida que se chamava Eduardo Martins. Muitos recordam ainda o Mestre Ricardo, que foi mestre-escola no Carril e nas Casas Novas.
Este foi o último artigo sobre formas de tratamento em Mouriscas. Pretendeu-se dar umas pinceladas dum interessante assunto que dá pano para mangas.
João Manuel Maia Alves