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MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

MOURISCAS - TERRAS E GENTES

Criado em 2004 para falar de Mouriscas e das suas gentes. Muitos artigos foram transferidos doutro espaço. Podem ter desaparecido parágrafos ou espaços entre palavras, mas, em geral, os conteúdos serão legíveis e compreensíveis.

Versos dum poeta mourisquense

30.12.04 | João Manuel Maia Alves
A saúde

Foi um garoto que me disse,
Ao entrar este milénio:
"Em primeiro lugar a saúde”;
Mas disse isto muito a sério!

Vale mais a saúde
Mesmo tendo pouco dinheiro,
Do que não ter saúde
E possuir o mundo inteiro

E neste sério reparo
Em que acredito a valer,
Para que serve o dinheiro
Se a saúde se perder?

O dinheiro sempre ajuda,
Por muito que se não julgue
Vale mais não ter dinheiro
E ter rodos de saúde....

Estes versos foram escritos pelo poeta mourisquense Joaquim António de Matos e fazem parte do seu livro “Espaço de Memória”, publicado em 2002. No próximo artigo daremos algumas notas biográficas deste mourisquense, a quem este blogue fica grato pela autorização da publicação deste poema.

Mouriscas nos anos 30 (2)

25.12.04 | João Manuel Maia Alves
Continuemos com informações sobre Mouriscas constantes do Boletim da Junta da Província do Ribatejo (N.º 1, Ano 1937 - 40).

Feiras e Mercados — Não se realizam na área da freguesia.

Festas tradicionais — Na sede da freguesia e em Vale de Matos realizam-se, nos dias 20 de Janeiro, Domingo de Espírito Santo, e 15 de Agosto, as tradicionais festas de S. Sebastião, do Espírito Santo e da Senhora dos Matos, promovidas por comissões e que representam a devoção religiosa dos seus habitantes. Romarias não se realizam.

Vias de comunicação — Mouriscas é sede de estação de caminho de ferro. Alvega - Ortiga e Alferrarede são as estações que mais próximas ficam da sua estação. A estação fica distanciada da sede da freguesia 3,152 quilómetros.

Distância às povoações mais próximas: a Panascoso, por estrada nacional, 9 quilómetros, a Barca do Pego, 8 quilómetros e a Abrantes, 16 quilómetros. Na área da freguesia passa a estrada nacional nº 83, 2ª classe, que serve Panascoso, Mação, Alferrarede e Abrantes. — Há um porto fluvial, o da Barca de Bandos. — Há uma carreira de camionete que serve a freguesia e que de Carvoeiro se dirige para Alferrarede. — Não tem automóveis de aluguer.

Produção — As principais produções são azeite, figo seco, cereais e vinho. Como indústria tem: indústrias de esparto (fabrico de ceiras), a de cerâmica e a de azeite. Não existe qualquer indústria caseira. Possui moinhos de vento, moagens, azenhas, fábricas de destilação e 20 lagares de azeite, na sua maioria bem apetrechados com maquinaria moderna. – A produção que mais se tem desenvolvido é a do azeite. — Não são muitos os terrenos incultos e a agricultura é feita por processos primitivos. — As culturas que predominam são as do milho e da batata.

Comércio — A principal natureza do seu comércio é mercearia, predominando, como estabelecimentos comerciais, as mercearias. — As localidades com que mantém mais relações comerciais são Rossio ao Sul do Tejo, Alferrarede, Lisboa e Pôrto. — Tem farmácia.

Instrução — Na sede da freguesia existem escolas de ambos os sexos e nos Engarnais Fundeiros uma escola mixta. Há postos escolares em Entre-Serras e Casas Novas.

Associações e Instituições — Em 15 de Agosto de 1935 foi criada a "Casa do Povo" que organizou o Rancho das Azeitoneiras que no Cortejo Folclórico realizado, em Lisboa, no dia 30 de Maio de 1937, tão assinalado êxito obteve. — Não tem filarmónicas nem quaisquer outras associações ou instituições.

Águas — A freguesia é abastecida por fontes de bica e chafurdo. — Não tem qualquer água com propriedades medicinais. Não há rede de esgotos.

Luz eléctrica — Não tem energia eléctrica nem qualquer espécie de iluminação pública.

Igrejas e Capelas — Há na sede da freguesia a Igreja Matriz, e Capelas em Vale de Matos, no Espírito Santo e outra em Lercas, esta de recente construção e feita por subscrição pública.

Cruzeiros — Existe um cruzeiro no lugar da Venda.

Folclore — Trajos e costumes vulgares.

Casas brasonadas, pelourinhos, conventos, estátuas, monumentos e padrões, não existem.

Emigração faz-se para o Brasil e para África, mas em menor escala.

Especialidades em doces — "Tijeladas", "marmelada" e "bolos de noiva".

Pontos dignos do serem visitados — Poço da Talha, Mieirão, Gruta da Nossa Senhora da Lapa, Moinho da Atalaia, pontos de onde se disfrutam óptimos panoramas e vastos horizontes.

Não existem quaisquer elementos militares na freguesia. — "Legião Portuguesa" e "Mocidade Portuguesa" não há.


Nota – Existem no texto deste artigo ortografias antiquadas. “Mixta” foi substituído por “mista” e “Pôrto” hoje não leva acento. É referida a freguesia de “Panascoso”; o nome actual desta localidade é “Penhascoso”.

Mouriscas nos anos 30 (1)

16.12.04 | João Manuel Maia Alves
Neste artigo e no próximo veremos algumas informações sobre Mouriscas constantes do Boletim da Junta da Província do Ribatejo (Nº 1, Ano 1937-40).

A freguesia de Mouriscas, que tem por sede o lugar de Casal da Igreja, tem por orago S. Sebastião. Era curado anual que o Vigário do Sardoal apresentava. A freguesia é de 2ª ordem.

População — É de 4.018 o número dos seus habitantes, sendo 1892 varões e 2.126 fêmeas. O número de famílias é de 1.125.

Correios, telégrafos e telefones —Tem estação telégrafo-postal, de 4ª classe, com horário de serviço limitado (das 9 às 18 h. com encerramento das 13 as 14 h. nos dias úteis e das 10 às 12 h. aos domingos e dias de feriado). Desempenha serviços de valores declarados, encomendas postais, cobranças, Caixa Económica, vales e registos. Há um posto telefónico com horário permanente na sede da freguesia. Em Engarnais Cimeiros, Casal da Igreja, Camarrão e Canenhos há também telefone. Não há distribuição domiciliária nem posta rural.
. .
Localização — Está situada numa encosta, na margem direita do Rio Tejo.

Lugares e lugarejos — S. Gabriel, Casalão, Cova do Madeiro, Rio Frio, Vale Covo, Charoeiros, Casal do Pita, Engarnais Fundeiros, Camarrão, S. Simão, Outeirinho, Engarnais Cimeiros, Casal da Milha, Poçarrão, Casal do Tejo, Casal dos Cordeiros, Cascalhos, Lomba Fundeira, Cumiada, Centieiras, Surdo, Balça, Aldeias, Murteira, Casas Pretas, Casal da Figueira, Bogalhinha, Casal da Igreja, Venda, Cardal, Ferrarias, Ferrasteira, Bica da Pedra, Fonte do Sapo, Varandas, Monte Novo, Canenhos, Casas Novas, Vimieiro, Carril, Carreira, Tojal, Várzea, Casal da Neta, Casal dos Vares, Pinheiro, Outeiro Cimeiro, Vale do Esteio, Cabrais, Sourões, Lomba Cimeira, Casal dos Castanhos, Lercas e Entre-Serras.

O maior aglomerado de habitações existe na sede da freguesia.

Indústria tem: indústrias de esparto (fabrico de ceiras), a de cerâmica e a de azeite Não existe qualquer indústria caseira. Possui moinhos de vento, moagens, azenhas, fábricas de distilação e 20 lagares de azeite, na sua maioria bem apetrechados com maquinaria moderna. — A produção que mais se tem desenvolvido é a do azeite. — Não tem muitos terrenos incultos e a agricultura é feita por processos primitivos. — As colheitas que predominam são as do milho e da balata.

(Continua)

Ferradores

15.12.04 | João Manuel Maia Alves
Segundo uma edição referente aos anos de 1937 a 1940 do Boletim da Junta da Província do Ribatejo existiam 1125 famílias na freguesia de Mouriscas. Na quase totalidade dos lares mourisquenses havia pelo menos um animal de tracção ou carga, donde se conclui que em Mouriscas havia em décadas passadas muitos animais usados para puxar veículos ou para transportar cargas.

Estes animais precisavam de ser ferrados para que os seus cascos ficassem protegidos de choques contra os maus caminhos de antigamente e pudessem suportar elevadas pressões resultantes de cargas ou da tracção de veículos.

Os homens que ferravam os animais chamava-se ferradores. No seu local de trabalho havia uma estrutura muito sólida que chamava a atenção. Era o tronco; nele eram imobilizados animais para serem ferrados.

Mulas, cavalos e burros eram geralmente ferrados sem entrarem no tronco. O ferrador, de costas viradas para o animal, levantava-lhe a pasta a ferrar e segurava-a entre as suas pernas. Tirava-lhe a ferradura velha com uma grande turquês. Depois cortava com um formão um pouco de casco. Alisava o casco com uma grosa e aplicava-lhe, a seguir, com grandes marteladas numa bigorna, uma nova ferradura, ajustada ao tamanho da unha do animal. Agora com um martelo espetava os cravos – uns pregos que eram enfiados em buracos da ferradura. Os cravos eram espetados de modo oblíquo relativamente à pata. Depois o ferrador cortava e limava com uma grosa as pontas dos cravos que saíam do casco.

Existe uma expressão relacionada com o ofício de ferrador – “dar uma no cravo e outra na ferradura”, que significa dar um golpe certo e outro não, dizer duas coisas contraditórias, acertar numas respostas e noutras não, responder atabalhoadamente, não dizer toda a verdade.

Existiam “bestas velhacas” ou “bestas brabas”, curiosas expressões que designavam animais pouco ou nada mansos. Para serem ferradas eram imobilizadas no tronco. Se necessário, punha-se-lhes uma coisa na boca, chamada aziel, para evitar que mordessem.

Os bois eram ferrados no tronco por serem animais pesados. A pata a ferrar repousava num suporte.

Toda a gente conhece a forma das ferraduras de burros, mulas e cavalos. Menos conhecidas são as ferraduras dos bois. Um boi tem duas unhas em cada pata; cada uma precisava duma ferradura. A ferradura dum boi, chamada canelo, cobre a parte da pata que assenta no chão e tem uma espécie de asa que envolve a unha pelo lado de dentro.

Os ferradores também tosquiavam burros, mulas e cavalos, aproveitando a ocasião para os alindar. Muita gente ainda recordará os artísticos enfeites na parte superior da cauda destes animais.

Nas décadas que podemos recordar houve dois troncos de ferrador em Mouriscas – o de Augusto Serras, na Estalagem, que tinha recebido o negócio do pai, Manuel Serras e o de Armando Santareno, nos Engarnais Cimeiros. Ambos tiveram empregados. António de Matos Frade, falecido no mês passado, trabalhou nos dois troncos. Era provavelmente o único ferrador mourisquense vivo.

Augusto Serras também percorria grande parte de Mouriscas para capar porcos.

Em tempos passados, acorriam tantos fregueses aos ferradores que muitas vezes tinham de aguardar bastante tempo pela sua vez de atendimento. Havia por perto tabernas onde podiam esperar pela sua vez enquanto tomavam umas bebidas e conversavam. Também podiam ficar por perto do tronco conversando entre si e com outras pessoas. Aliás, os troncos dos ferradores eram locais de convívio aonde acorria muita gente para contar e ouvir histórias e novidades.

Em toda a parte os ferradores percebiam muito de doenças de animais. Em Mouriscas acontecia o mesmo. Os ferradores eram muito procurados quando algum animal adoecia. Eram uma espécie de veterinários formados na escola da vida, aconselhando sobre cuidados a ter com os animais ou preparando mesmo produtos para lhes administrar. Isto faz-nos recordar uns versos que constavam dum livro da instrução primária de há muito tempo e que, com possíveis lapsos, aqui reproduzimos

Certo médico afamado,
Tendo doente um jerico,
Mandou chamar um ferrador
Para curar-lhe o burrico.

Pronto o bicho, quanto devo?
Pergunta o Dr. Fabrício.
Nada, que nós não levamos dinheiro
Aos que são do mesmo ofício.

Ferradores de antigamente! Foi bom recordar e homenagear essas figuras populares que “calçaram” e cuidaram dos nossos animais!



Este artigo teve a preciosa colaboração, que muito se agradece, de Arnaldo Cordeiro (Espadeira) e de Quintino de Matos Caldo Pardal. Ambos foram vizinhos durante muito tempo do tronco de Armando Santareno.

ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE MOURISCAS

02.12.04 | João Manuel Maia Alves
ADIMO

CASAL DA IGREJA – EDIFÍCIO DO MUSEU (EN 3) – 2200-684 MOURISCAS

NIPC: 504878034


NOTA DE IMPRENSA

Realizou-se no passado dia 21 de Novembro a apresentação pública do Diagnóstico de Necessidades e do Plano Estratégico de Desenvolvimento de Mouriscas.
A sessão decorreu no Anfiteatro da Herdade da Murteira, em Mouriscas, na Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes que, como se sabe, funciona naquela freguesia.
Os documentos apresentados fazem parte de um trabalho da responsabilidade da ADIMO – Associação de Desenvolvimento Integrado de Mouriscas em colaboração, através de protocolos celebrados, com a Universidade de Évora, com a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes e ainda com a Junta de Freguesia de Mouriscas. Para o referido trabalho houve também o apoio do Governo Civil de Santarém e da Pegop – Tejo Energia, SA.
O trabalho foi realizado no âmbito de um Estágio Profissional aprovado pelo IEFP – Centro de Emprego de Abrantes. Foi estagiária a Drª. Andreia Cristina Serra Courelas, Socióloga. Teve com orientador do estágio o Prof. Doutor Carlos Alberto Silva e como coordenador, por parte da ADIMO, o Prof. Doutor Luís Barbosa, ambos da Universidade de Évora. Ainda por parte da ADIMO este estudo sociológico integrou-se no Centro de Estudos Sociais, uma das áreas da Associação, de que é Director o Prof. Doutor Carlos Lopes Bento.
De entre os convidados estiveram presentes o Presidente da Junta de Freguesia, Manuel Grilo, o Presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Dr. Nelson de Carvalho e a Vereadora da Cultura da referida Câmara, Drª. Isilda Jana.
Sócios da ADIMO e Mourisquenses interessados perfizeram as quatro dezenas de presenças nesta sessão que se iniciou por volta das 10H45 e que terminou cerca das 13H45.
Quanto aos documentos apresentados refere-se que foram o resultado da investigação feita na freguesia na análise documental, na realização de entrevistas e ainda na aplicação de inquéritos por questionário a uma amostra da população.
Face ao estudo feito foi possível identificar o objectivo geral que irá dar forma às acções, actividades e projectos que constituem o Plano Estratégico de Mouriscas. Assim “compreender a actual situação da freguesia de Mouriscas para reverter o actual processo de desertificação e envelhecimento, contribuindo para a tornar num local com melhor qualidade de vida e com boas possibilidades de atingir um desenvolvimento integrado, sustentado e sustentável.” foi o objectivo geral identificado.
A partir deste objectivo foi possível enunciar quatro objectivos estratégicos que abarcam as áreas prioritárias identificadas: “promover a fixação de jovens, apostando na formação e na qualificação, incentivando a criação e manutenção do próprio emprego, permanecendo na freguesia”; “contribuir para a criação de iniciativas direccionadas para as potencialidades da zona e para a tentativa de alcançar um desenvolvimento integrado e sustentado para a freguesia.”; “contribuir para um reforço da qualidade de vida da população mais idosa, tanto ao nível da freguesia como fora desta.” e “divulgar a cultura, as tradições e o artesanato da freguesia, aproveitando estas mais valias para promover o desenvolvimento sustentado.”. Para cada um destes objectivos foram definidas acções a realizar para os concretizar.
No encerramento quer o Presidente da Junta, quer o Presidente da Câmara mostraram a importância deste trabalho para a freguesia e fizeram votos para este tenha sido o princípio do trabalho no caminho do desenvolvimento integrado de Mouriscas.

ADIMO – Direcção